Desde que me lembro de mim que adoro Lisboa à noite. Não a noite de Lisboa, mas a noite, as luzes, o brilho, o mistério e a sedução das estrelas em cima das cidades. Chegar a casa vinda do céu num avião e reconhecer lá em baixo o Campo Pequeno a brilhar no escuro da noite é a perfeita ilustração de um regresso, de um there's no place like home. I miss my wings...
No dia 28 de Março, durante 60 minutos, Lisboa vai ficar às escuras para iluminar a mensagem da Hora do Planeta contra as alterações climáticas.
"Entre as 20H30 e as 21H30, da noite de 28 de Março, o Cristo-Rei assim como a Ponte 25 de Abril, o Palácio de Belém, o Mosteiro dos Jerónimos, a Torre de Belém, o Padrão das Descobertas, o Castelo de São Jorge, os Paços do Concelho e o Museu da Electricidade vão ficar apenas iluminados pela luz das estrelas; O Centro Cultural de Belém (CCB) assinala também a Hora do Planeta desligando por 15 minutos as suas luzes."
"De todas as crises que enfrentamos no momento, considero que a ambiental é a maior delas todas – ainda mais densa que a crise financeira e que o terrorismo. É um assunto sério, mas estou esperançado quanto à sua resolução, porque sinto que cada um de nós pode fazer a diferença e ser parte de uma grande solução. Se puder usar a minha parte para que possa, de alguma forma, ter um efeito positivo, fico muito feliz por isso."
umas breves notas a lápis, uns alinhavos de costura
1) O tema de capa da Courrier Internacional, a bondade
Lembro-me do altruísmo, do voluntariado, dos gestos pequenos e anónimos, da ostentação da solidariedade, do filme de Lars Von Trier, Dogville, fabuloso exercício de cinema, de teatro, de representação, de comportamentos, de introspecção (?).
2) Aquele rapaz que encontro sempre que caminho rente ao Tejo. Da minha idade ou mais novo, talvez a vida lhe tivesse vincado mais que a mim os traços; que eu apesar de tudo ou... por tudo, continuo com uma boa genética física e a crescer todos os dias enquanto pessoa, em pequenos gestos inimagináveis - ou não.
Traz no rosto uma tristeza imensa, como se rodeado de uma aura ancestral de melancolia. Não procura o olhar de ninguém, está ali sozinho com aquela dor. Tem boa figura, se sorrisse e caminhasse com os ombros levantados erguendo-se ao mundo, não passaria tão despercebido ao olhar feminino. Se calhar não quer mesmo. Não sei. Estou a construir uma personagem, não me peçam rigores nem ofereçam contraposições, ah mas ele 'tá a fazer-se de vítima e tal, que o que quero apenas é imaginá-lo. Náo tem de ter correspondência com a realidade. O que escrevo não tem que ser real e toda a escrita e toda a leitura também, são subjectivas. Algo me diz que curiosamente debaixo daquele despreendimento e tristeza, aquele homem está a ter uma enorme coragem para sair à rua e enfrentar os ares do mundo.
3) Hoje na Galp comprei o Expresso na mira dos filmes de Almodôvar. Perguntei pela Happy (grátis para os clientes do cartão Galp), que é uma revista pior que a Maria se bem que não leio a Maria há muito tempo donde se deduz que esta opinião é indevidamente fundamentada. Não havia mas havia de sobra a Caras que a senhora simpática que me atendeu me deu gentilmente. Gracias, senõrita :)
4) A seguir uma passagem pelo Continente - tinha 5 € no cartão a descontar na caixa e vi tb as promoções. Resultado final na conta. Descontei os 5 euros e acumulei outros 5 para a próxima compra! Boa!
5) Agora vou devassar a casa ou como quem diz, virar a casa do avesso. Já não a posso ver sempre igual.
6) e a ouvir a M80, música, a segunda melhor coisa do mundo...há quem diga.
publicado por vague às 28.3.096 comments
que importa isso agora, o presente é tudo o que tenho hoje e o amanhã é incerto. certo é estar aqui, certo é o passado ser apenas uma história acabada. e se? ... talvez tivéssemos mudado o futuro. estaríamos melhor? pior? como se existisse o melhor e o pior. cada caminho é único e foi escolhido porque sim e não são precisas mais palavras para explicar o instinto, o amor, a vontade ou uma circunstância qualquer como ter apanhado o autocarro errado que me fez demorar a chegada a casa. não sendo grande fã de determinismos, alheio-me, espero que para sempre, que expressão fatal, dos e se?... do destino, crendo viver assim a imortalidade nos pedaços soltos da vida.
Este ano na data não me enganei não me atrasei nem adiantei na altura certa te parabenizei embora se fosse um bocadinho mais tarde não levarias a mal (o quê, não rimei?) :)
Em O estranho caso de Benjamin Button e Quem quer ser milionário? existe um denominador comum que se insinua no desenrolar das respectivas histórias e que faz parte de uma amálgama de peças soltas que acabam por fazer sentido a(final). É o e se, a sorte, o destino, a coincidência, o azar, o não controlável. Preciso de rever estes dois filmes para melhor os absorver e sentir. São notáveis, por estes motivos e pelos que cada um dá ao espectador que se dá ao filme. Mas hoje estou na onda Eastwood...
Que mundo é este tão desigual? As pessoas são pessoas onde quer que tenham tido a sorte/azar/circunstância de nascer. Deveria existir uma organização supra-nacional com poderes efectivos para erradicar estes comportamentos censores e correctivos. E sim, imiscuia-se nos assuntos do país, caramba! Isto não é assunto interno de um pais! Transcende a nacionalidade. É uma questão universal de cidadania e de respeito pelos Direitos Humanos e isso está acima de países, políticas, preconceitos, conveniências sociais.
Coloquemos a coisa ao contrário. Imagine-se que, heterossexual como sou, nasci num país onde ser hetero é olhado como errado e a sociedade lembra-se de me corrigir pelo método exposto, adaptado ao meu caso concreto.
Agora imaginem uma situação semelhante convosco, qualquer que seja a vossa orientação sexual, a qual não é de todo relevante para exemplificar estes casos de violência contra a humanidade. Contra todos nós.
Rainha Rania da Jordânia, "Diário de Notícias", 17-03-2009
E ela é uma grande embaixatriz dos direitos das mulheres! Infelizmente nos países ditos mais avançados a nível de paridade de géneros, subsistem discriminações, algumas subtis, reveladoras de uma mentalidade com que ninguém de bom senso, coração bom e aberto à vida se pode identificar.
Quando abalares, de ida para Ítaca, Faz votos por que seja longa a viagem, Cheia de aventuras, cheia de experiências. E quanto aos Lestrigões, quanto aos Ciclopes, O irado Poséidon, não os temas, Disso não verás nunca no caminho, Se o teu pensar guardares alto, e uma nobre Emoção tocar tua mente e corpo. E nem os Lestrigões, nem os Ciclopes, Nem o fero Poséidon hás‑de ver, Se dentro d'alma não os transportares, Se não tos puser a alma à tua frente.
Faz votos por que seja longa a viagem. As manhãs de verão que sejam muitas Em que o prazer te invada e a alegria Ao entrares em portos nunca vistos; Hás‑de parar nas lojas dos fenícios Para mercar os mais belos artigos: Ébano, corais, âmbar, madrepérolas, E sensuais perfumes de todas as sortes, E quanto houver de aromas deleitosos; Vai a muitas cidades do Egipto Aprender e aprender com os doutores.
Ítaca guarda sempre em tua mente. Hás‑de lá chegar, é o teu destino. Mas a viagem, não a apresses nunca. Melhor será que muitos anos dure E que já velho aportes à tua ilha Rico do que ganhaste no caminho Não esperando de Ítaca riquezas.
Ítaca te deu essa bela viagem. Sem ela não te punhas a caminho. Não tem, porém, mais nada que te dar.
E se a fores achar pobre, não te enganou. Tão sábio te tornaste, tão experiente, Que percebes enfim que significam Ítacas.
Tudo aquilo a que fechamos os olhos, tudo aquilo de que fugimos, tudo aquilo que negamos, denegrimos ou desprezamos, acaba por contribuir para nos derrotar. O que nos parece sórdido, doloroso, mau, poderá tornar-se numa fonte de beleza, alegria e força, se o enfrentarmos com largueza de espírito. Todos os momentos são momentos de ouro para os que têm a capacidade de os ver como tais. A vida é agora, são todos os momentos.
Ontem vinha no carro a ouvir a Radar e eis que se lançou sobre mim uma canção, chama-se Fly e é de David Bowie. Não a consigo encontrar no YouTube. Alguém me ajuda? Gostei tanto na altura (mas se calhar há canções que (nos) atravessam momentos e noutros momentos podem não nos tocar da mesma maneira). Agradecida, beijinhos Vague :)
publicado por vague às 12.3.090 comments
Luke’s YouTube metamorphosis began 18 months ago. After quitting a dead-end job as a taxi dispatcher, she began selling makeup on eBay from home. “Instead of picturing the actual products I was selling," she says, "I would use it on meself, and take a photo so people could see what it looks like outside of the pot.” Eventually, the emails started flowing. “’How have you done that?’,” people would ask her. “’Could you tell us what goes best with blue eyes? Brown eyes…’ It got to the point where I was typing replies more than I was listing products.” That’s when she decided to post videos online demonstrating possible applications of the products she was selling. (...) Luke now writes a makeup column for The Guardian and is developing a book. Vanity Fair, Março 09
publicado por vague às 12.3.090 comments
O papel branco pede para eu me escrever nele. Aos 15 anos o papel branco era de facto branco, com linhas uma vezes, outras liso. E era nele que escrevia como quem alisa a dor de ter 15 anos. Hoje sorrio com ternura à miúda de então, que se achava tão segura das suas paixões e inseguranças. Não quereria, se pudesse, voltar atrás no tempo para mudar alguma coisa. Acredito que fiz o que tinha de fazer, amei quem tinha de amar, errei quando tinha de errar, sofri porque tinha de aprender a viver. Encaro a vida não como uma fatalidade, mas como uma caminhada, um percurso interior. E quando caminho junto ao rio rente ao céu e respiro fundo é a minha vida toda que anda ali a percorrer os seus espaços interiores em harmonia com o sol e o vento forte.
publicado por vague às 11.3.094 comments
As palavras podem às vezes ser inúteis
mas também podem criar laços, formar correntes e ser poderosas.
publicado por vague às 11.3.092 comments
O estranho caso de Benjamin Button, de David Fincher.
Baseado num livro de F. Scott Fitzgerald, que desde O Grande Gatsby, passou a ser um autor referencial meu. Como será o livro? Não o vou procurar, a não ser que ele se me atravesse à frente como o destino quando nos apanha na curva.
Passei as 3 horas do filme a chorar e a enxugar discretamente as lágrimas fingindo mexer no cabelo. Não me apetece alongar em dissertações sobre lágrimas e filmes - ando muito pouco de escrever e de ler seja o que for, blogs e livros (apesar de sentir uma feroz necessidadade de o fazer, raio de letargia a resolver com tempo? e sossego).
Eu vi o filme. Eu amei o filme. Eu senti o filme. E o curioso é que no meio de todo o fantástico, no meio do inesperado, acontece magia, beleza, possibilidade e acaso. Os acasos, o destino. A fabulosa ideia de um relógio que anda para trás para mudar o futuro e uma fresta do tempo ao contrário por onde entrou um ser humano que tinha de nascer.
Tem tanta fantasia e (no entanto) faz sentido, toca nos limites. Um soco de leve no estômago quando Cate Blanchett diz a Brad Pitt: "Todos acabamos de fraldas". E o estômago faz e desfaz um pequeno nó.
(...) ainda mais íntima, a consciência extensa como o céu, o corpo de tudo, semelhança absoluta (...)
Fiama Hasse Pais Brandão
publicado por vague às 8.3.090 comments
Verso Vão
Onda de sol, verso de ouro, perífrase vã. Extasiar-me, antes, por esta fusão, mistura de brilhos. Ou, ainda mais íntima, a consciência extensa como o céu, o corpo de tudo, semelhança absoluta. Respirar na quebra da onda. Na água, uma braçada lenta até ao limite de mim.
O cirurgião plástico José Mendia está a ser julgado nas Varas Cíveis de Lisboa, por más práticas clínicas. O caso remonta a 2005 quando uma mulher se submeteu a um lifting facial.
A queixosa que em menos de um ano foi submetida a três operações lideradas pelo arguido, alega danos morais e pede uma indemnização de 25 mil euros. De acordo com os relatórios médicos a que o CM teve acesso, a queixosa tem uma necrose cervical, ou seja, tecidos mortos na zona do queixo e do pescoço.
“Estou revoltada, o médico é um carniceiro”, disse a queixosa ao CM (...).
Sofia Rato, Correio da Manhã, 06/03/09
Já aqui manifestei o que penso deste alegado cirurgião plástico. Em 2004 foi condenado pela má prática clínica de que resultou a morte de uma miúda de 20 anos, a Rute, amiga da minha irmã. Assisti a uma das sessões do julgamento e chamou-me a atenção a forma ligeira, direi mesmo leviana e cheia de bonomia como o Dr. José Mendia se comportou. Em nenhum dos seus gestos ou expressões mostrou contenção, que revelaria respeito pela dor dos familiares presentes. Vinha cá fora ao átrio do tribunal, ria e falava animadamente com a assistente.
Classe? O que é isso? É pose para a fotografia, não é? Espero que se faça Justiça em mais um infeliz caso, e que este homem seja expulso da profissão e de qualquer prática clínica de uma vez por todas. Ele que se continue a pavonear nas festas cor-de-rosa com o seu ar cândido e frontal que tão bem domina... impressionando quem se deixa impressionar ou quem não sabe da missa a metade. Ou quem não quer saber.
Quando folheio uma Caras e o encontro, tão polido e de olhar tão simpático para a câmara, lembro-me da frase: A maior parte dos criminosos olha-nos nos olhos....
Hoje o meu avô foi para um lar. Se ele ao menos não estivesse triste. Ferozmente lúcido, apercebe-se dos anos que lhe caiem pelos ombros como pedras e o deitam abaixo. Tem uma vida longa, 88 anos de histórias que não me canso de escutar, esteve casado 50 anos com a mulher que escolheu, teve filhos, netos e conheceu bisnetos, foi e é! um homem de carácter, forte como um touro, física e anímicamente. Talvez por ter tido tanto da vida, julgo eu na ignorância do que me é vedado porque por dentro de cada um, cada um é um mundo, talvez por ter tido tanto da vida lhe pesem as memórias tanto como os anos. Claro que é a lei imutável e eterna da vida. E é um percurso normal. Quantos percursos há que fogem a esta relativa bonomia.. Quantos destinos se cruzam de repente com alguém e a levam sem ela ter tempo de amar a vida. Talvez as pessoas que tenham amado muito, recebido muito, sejam aquelas que mais sentem a solidão da perda. Mas não sei se se pode quantificar a dor da perda versus a dor da ausência do que nunca se possuiu. As que tiveram pouco ou nada não terão buracos enormes no peito, cheios dessa saudade do que nunca lhes pertenceu? A vida anda a ensinar-me tanta coisa e eu ainda tenho tanto a aprender. Mas o giro é que mesmo assim os 41 anos (e meio!) têm-me trazido uma maior capacidade de aprendizagem e uma paz maior... Adoro-te, avô.
publicado por vague às 5.3.09
Janet Gaynor, a primeira mulher a ganhar um Óscar.
Em 1929 e pelo conjunto dos 3 filmes que protagonizou entre 1927 e 1929, entre os quais Sunrise. À época, e segundo a informação que tenho por fidedigna, os critérios de nomeação e atribuição de Oscars pressupunham a prestação interpretativa em vários filmes.
Vendo-a calada e sonolenta, a mãe pergunta-lhe: - Que tens, filha? E ela (que nasceu ontem e já tem 4 anos) responde, alisando o vestido: - São cá coisas com a minha vida.
Um homem que cultiva o seu jardim, como queria Voltaire. O que agradece que na terra haja música. O que descobre com prazer uma etimologia. Dois empregados que num café do Sul jogam um silencioso xadrez. O ceramista que premedita uma cor e uma forma. O tipógrafo que compõe bem esta página, que talvez não lhe agrade. Uma mulher e um homem que lêem os tercetos finais de certo canto. O que acarinha um animal adormecido. O que justifica ou quer justificar um mal que lhe fizeram. O que agradece que na terra haja Stevenson. O que prefere que os outros tenham razão. Essas pessoas, que se ignoram, estão a salvar o mundo.