Estou na mesma. Alguém - que me leia, pode responder só quem me lê, os outros podem seguir para fim de semana - me sabe dizer se são gelados, rebuçados ou coisa que o valha que o Sr. Jeff Koons pespegou ao símbolo do Google? E já agora, porquê? O que é que me está a passar ao lado? Entretanto vou ali ao chinês jantar e logo ou amanhã passo por cá. Combinado.
"Well, photographers are always photographing the package. But they would never think to open up the box. Well, I'm interested in the contents, because once you start opening up the box, it's like a Chinese box, there's always another box inside. So it is limitless. So, my version of reality means I believe in the tears, I believe in the reality of anxiety."
O que é que aquela deputada - italiana? - que embasbacava os colegas do sexo masculino com os seios ao léu, tem a ver com a imagem deste Google de 30 de Abril?
(a palavra seios é mesmo bonita, não é?)
publicado por vague às 30.4.082 comments
domingo, abril 27, 2008
De(lírios)
Em frente à casa amarela em Arles havia um canteiro de lírios. Ou seria na cabeça amarela de Van Gogh que esses lírios floresciam? Inclino-me mais pela segunda hipótese. Ou não sofresse Van Gogh delírios.
Ouvia falar dela, dela nada tinha ouvido. Pesquisei no meu sítio favorito de descoberta dos sons que não conheço e dos que conheço e trouxe comigo este video. Digamos que...não é óbvio de entender este experimentalismo mas, ora! não me dá luta e piacere o óbvio. Por seu lado, a chama da curiosidade permite-me o desejo de tactear (no escuro) até tocar (levemente) na essência da luz.
Onde que que o encontres - escrito, rasgado ou desenhado: na areia, no papel, na casca de uma árvore, na pele de um muro, no ar que atavessa de repente a tua voz, na terra apodrecida sobe o meu corpo - é teu
- O que é é que te leva a pensar que ajudas mais os outros do que eu, por exemplo?
- Como é que te hei-de explicar...(...) só para te dar uma ideia, acho que uma pessoa sem quaisquer limitações, sem ter passado por uma experiência de vida mais complexa não tem à partida a mesma sensibilidade para dar algo de si a desconhecidos...(...) eu acho que em geral todos os homens, ou quase todos, têm bom fundo, vontade de dar algo de si. Contudo, quando a vida não nos põe à prova, quando não nos mostra sem sombra de dúvida que podemos sempre dar mais de nós mesmos, as nossas boas acções acabam por ficar circunscritas a um grupo limitado de pessoas, aquelas com quem vivemos diariamente. Para teres uma noção do que quero dizer, antes do desastre acho que sempre fui bom filho, bom neto, amigo, etc...sempre que podia ajudava os outros, facilitava-lhes a vida naquilo que me dizia respeito. Apesar disso nunca me passou pela cabeça ir ajudar um desconhecido. Por exemplo, perder uma tarde com os meus amigos para na praia para ir ajudar crianças ou pobres, ou algo do género. Acho que as pessoas que o fazem, sem que tenham passado por experiências realmente marcantes, são pessoas que devem ter uma vocação especial, um chamamento interior imperceptível aos outros. Acho que essas pessoas, que encaram a vida quase com espírito de missão, têm um valor enorme, e que muitas vezes não é devidamente reconhecido. É muito difícil sairmos de nós próprios, darmo-nos aos outros sem esperar nada em troca... "
era uma vivência mto rica, mto em contacto com a origem das coisas. a alimentação, a água fresca dos poços, o pão acabado de cozer e os queijinhos frescos que se compravam à vizinha. e as estações, a fruta do tempo, as luas, o meu avô meteorologista de saberes antigos e acertados, hoje o vento está do norte, vês aquelas nuvens dali? se a lua de março entrar com chuva, então... ainda hoje lhe pergunto como vai estar o tempo para amanhã.
.................................fim de semana caseiro
uma alergia. depois veio a tosse e, solícita, a dor de cabeça que me faz latejar as têmporas como um coração a bater fora do sítio. o nariz não sai sem um lenço atrás.
a voz está rouca, os olhos cansados e meio zombie, a sonolência invade-me, encomendada pelo anti-histamínico. e pelo cansaço, talvez.
o ouvido, ciumento, reclama atenção e envia-me alertas e eu, só para deixar de o ouvir, mentalizo-me que quanto mais cedo der entrada na sala de operações mais depressa saio dela.
..................................A terra, princípio e fim
O Luis Eme, a propósito do Dia da Terra, fala das memórias de infância e do respeito que sente pela terra/Terra.
Quando o Luis fez a observação de que pensava que eu era uma mulher da cidade, eu exerci de imediato o meu direito de resposta, pensando ao mesmo tempo com os meus botões (fecho éclair, aliás) que devia trazer para casa o que tinha deixado em casa dele, pondo assim lamareehaute a render, a vida está difícil para todos.
................................. Direito de resposta nasci na cidade, vivi no campo, vivo na cidade. gosto de pensar que sou uma mulher feliz em qualquer lugar. assim seja. digamos q não sou nem da cidade nem do campo, estou somewhere between, num sítio q construi com a minha vida. privilegiada por entender e amar a terra, princípio e fim de todas as coisas, por ter apanhado uvas qdo o meu avô fazia a vindima, por 'ajudar' a minha avó a amassar a farinha para fazer aquele pão maravilhoso como nunca comi igual e nunca mais comerei.
Há uma meia dúzia de anos vi uma exposição na Tate Gallery, em Londres. No átrio do museu, logo à entrada portanto estava dependurado do tecto alto, um cavalo... morto. O corpo descaía-lhe com a força da gravidade e aquela imagem deu o tom à exposição, que aliás não apreciei particularmente.
O meu é-quase-como-se-fosse-padrinhoCap escreveu este post sobre certo tipo de manifestações artísticas, nomeadamente uma instalação onde um cão... morre à fome. Acho o tema "o que é arte?" extraordinariamente interessante, pois certos artistas, chamemos-lhes assim, parecem querer re-escrever o conceito de arte através do macabro, do mórbido, do choque emocional e alegadamente mórbido-cultural.
Vou trazer para aqui o comentário que deixei no Renascido. acho q para muitos ‘avant-garde’, há uma ligeira confusão entre ideias novas e arte. nem tudo o q se inventa é ‘arte’. nem tudo o q é ‘experimentalismo’ é arte. nem tudo o q choca é arte. nem tudo o q ‘abana consciências’ e nos faz reflectir (e nos faz comentar este tema macabro) é arte. arte “para mim” é beleza, é tocarem-me nos pontos senssíveis da alma. é sentir reflectida a minha humanidade.
...............................Experimentar a escuridão
Uma iniciativa inédita e original vai juntar, na próxima quarta-feira à noite, empresários e políticos portugueses num jantar às escuras no centro comercial Dolce Vita Monumental, em Lisboa. O evento tem como objectivo sensibilizar os presentes para as dificuldades sentidas pelos deficientes visuais no que toca à integração no mercado de trabalho, mobilidade e actividades diárias, bem como assinalar a inauguração de novos equipamentos dirigidos aos portadores de deficiência visual no centro comercial.
As novas soluções, desenvolvidas em conjunto com a ACAPO, Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal, incluem directórios digitais com entradas para aparelhos áudio onde é feita a transposição para voz das informações que estão lá escritas, bem como um botão que permite accionar os vigilantes para que acompanhem as visitas.
Os novos equipamentos incluem ainda directórios em braille (com indicação de lojas, elevadores e saídas de emergência), instalação de placas nas colunas situadas entre as lojas com informação do que está imediatamente à esquerda e à direita, e a instalação de relevos no chão indicando o caminho para directórios digitais, saídas e elevadores.
O Doce Vita Monumental é o primeiro centro comercial do grupo Chamartin que será dotado destes equipamentos, mas o grupo garante que em breve vai levar estas tecnologias aos nove centros comerciais que detém em Portugal e Espanha e que os irá também instalar em todos os que estão projectados.
O jantar de quarta-feira inspira-se no restaurante "Dans le Noir", restaurante existente em Paris, Londres e Bruxelas, onde se janta completamente às escuras e cujos empregados são cegos. Durante o evento, um pintor cego irá pintar diversos quadros que posteriormente serão leiloados e revertem integralmente para a ACAPO e um poeta invisual declamará alguns poemas, em associação ao Dia Mundial do Livro, que se assinala nesse mesmo dia. GP
É quase com vergonha que digo que sou do PSD porque não me identifico de todo com a actual direcção e os seus critérios morais dúbios. O casoFernanda Câncio é mais uma gota que está à beira de me fazer transbordar o desinteresse. Mas afinal - que raio! - a jornalista não pode ter um relacionamento com o PM sem que isso acarrete suspeições de favorecimento ou violação dos deveres de reserva e confidencialidade? O que querem que ela faça? Que desista de ser jornalista e passe a estar em casa a coser as meias e preparar o jantar para o maridinho? Não há pachorra para tanta burrice e tantas palas nos olhos (os animais burros que me perdoem, pois bem vistas as coisas é a eles que eu estou a ofender). Que disparate que não tem ponta por onde se pegue. Acabei de ler um artigo no Expresso sobre o tema e congratulo-me por existir razoabilidade e bom senso na apreciação do caso por parte das entidades competentes, que são unânimes na constatação de falta de fundamento das acusações do PSD. É por estas e outras igualmente tristes, parciais e subservientes que a política pode ser uma coisa degradante e vil, uma pequena política, de mesquinhez no raciocínio e despudor na argumentação.
_____Descobri hoje a existência, significado e importância do Dia da Terra, de uma forma casual quando vi o símbolo do Google a respirar ar puro e me lembrei de quando em pequena remexia a terra, pegava numa enxada e dizia ao meu avô que ia fazer uma plantação de morangos, portanto faz favor e deixe este quadrado de terra só para mim. Ou quando corria pela terra abaixo até ao rio de pedras e caudal só quando chovia, quando tentava subir a uma nespereira, quando circulava por entre pereiras, pessegueiros, cerejeiras. E o poço de água fresca ali ao lado. E o forno que cozia o melhor pão que alguma vez comi, feito pela mãos da minha amada avó.
E...o planeta precisa, já não direi de ser salvo, que isso envolve uma carga messiânica que nos dissuade de tentarmos, cada um, fazer o melhor que pode, mas de pequenos gestos individuais (sem esquecer o apelo aos governantes) de informação verdadeira a que todos possamos ter acesso e que seja transmitida de uma forma apelativa e simples, de divulgação com conta peso e medida e que toque e envolva toda a comunidade.
Posto isto já me esqueci do que ia procurar no Google.
É preciso estar sempre embriagado. Para não sentirem o fardo incrível do tempo, que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso. Com quê? Com vinho, poesia, ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.
Porque fala de generosidade, despojamento, solidariedade e reforça uma ideia que não é clara para nós: a de que cada um pode mesmo fazer a diferença.
Qual é a minha ou a tua língua? Cem Poemas de Amor de Outras Línguas Organização por Jorge Sousa Braga
Porque fala de amor, porque admiro muitíssimo a sensibilidade de J. Sousa Braga, um dos meus poetas preferidos, visceral, apaixonado, perturbador, linear na sua complexidade e que encontrou, de outros poetas, poemas belíssimos de onde jorra também visceralidade. Dois dois que li em pé (ia dizer e ao relento, que soava bem mas era pouco crível) cativou-me essa força e essa paixão, às vezes tão crua, às vezes tão terna, às vezes tão tudo ao mesmo tempo.
Procurava no YouTube a versão de David Byrne de Au fond du Temple Saint, uma composição de Georges Bizet (da ópera Os pescadores de pérolas). Gosto do que resulta desta sensibilidade de experimentar coisas diferentes que resultam bem. É isto a criatividade e a invenção, que nos permitem olhar para cima da linha do horizonte, que se refaz continuamente à medida que avançamos.
Não encontro a versão de Byrne, encontro as versãos clássicas, intensas e muito bonitas. Escolho esta para ocupar hoje o espaço de som deste blog.
"Au fond du temple saint" aria tratta dall'opera Les pêcheurs de perles di Georges Bizet interpretata da Robert Merrill e Jussi Björling. Registrazione del 1950. YouTube
uma ínfima parte do que há a fazer está feita. a roupa rodopia na máquina e as divisões foram objecto de um primeiro confronto para avaliar os danos. para alguns já estabeleci um suave plano de emergência por fases, que é uma expressão bonita. durante a semana, em cooperação com alguém que me vem ajudar a agarrar a casa pelos cornos (vénia devida a Ary dos Santos, de quem utilizei a expressão noutro contexto embora) a troco dos meus lindos olhos e do pagamento justo dos seus serviços, conto ter a saúde da casa passada no teste e diagnosticadas as zonas críticas que requerem reposicionamento de móveis e plano de arrumação funcional. não esquecer de comprar cif lixívia, objecto fetiche que vou passar a reverenciar ou não fosse a minha ajudante ou se calhar líder uma fã incondicional dos seus poderes de limpeza e desinfecção. um bem haja para uma pessoa especial que não deve saber o que é um blog e que merece, por razões alheias a pormenores domésticas e que não vêm ao caso, a minha estima.
Rodrigo Leão - A Casa
E agora, aí vou eu, artilhada de paciência e capacidade de abstracção para partilhar um espaço com muita gente num centro comercial perto de si. só porque preciso de ir... ai, ai... (suspiro)...
Em nenhuma outra área a ânsia por um destino é tão forte como na vida amorosa. Sendo nós, tantas vezes, obrigados a partilhar a cama com quem não compreende a nossa alma, não será perdoável o facto de acreditarmos (contrariando todas as regras da nossa época iluminada) que havemos de encontrar, um dia, o homem ou a mulher dos nossos sonhos?
Acordo sem sono, espreito apreensiva o relógio, são três da manhã. Calma, vague. Dá uma volta pela casa e espreita a noite, ordeno-me mentalmente em silêncio. O pensamento salta disperso para o que quero fazer hoje, entre dar um ar humano ao doce lar e espairecer esquecida de tudo. Perguntam, e que interesse tem esta conversa, digo que não sei e que... sinceramente?... não me interessa. Chove lá fora e a noite é minha.
entendo que num blog, resultado como é de um egocentrismo aceitável e de um exercício de apetecimento, não existe necessidade de justificações de faltas nem de ausências e os atestados médicos ainda não são aplicáveis aos blogs.
no entanto sinto-me, nesta minha ausência de comentar, como estando um pouco em falta para convosco e ao mesmo tempo ausente do que se passa, de que falam, que pensam, do que riem.
o certo é que o tempo foge-me por entre a tentadora dispersão de vários assuntos em simultâneo, o timing de uma reorganização necessária e as habituais interrupções.
e eu, quando encontro algum tempo só para mim nas alturas em que o tempo se satura de si próprio e me invade com prazos, não visito ninguém. fico a sós comigo em luxúria, no prazer do reencontro ou na consentida e necessária alienação momentânea de um programa de televisão, ou - melhor ainda - de um filme.
além disso estou com uma simpática gripezinha e uma alergia primaveril.
e também a minha casa está com alguma desorganização que ameaça afrontar-me se eu não lhe deitar a mão rapidamente e o carro parece ter sido visitado pelo monstro das bolachas (cairam pois, o saco estava roto!).
what a wonderful week-end à volta da casa. socorro!
desculpem lá a minha ausência (mais um dia e o JPP acusa-a no Abrupto) mas, tendo todo o tempo do mundo ou seja 24 horas inteiras, vejo que actualmente não me chegam para o que preciso de fazer para ontem hoje e amanhã, que por acaso e circunstância é título do primeiro vinil que tive, oferecido pelos meus pais juntamente com a aparelhagem por ter passado de ano. se fosse hoje já não receberia prenda, dado que não seria nenhum feito passar de classe ou de ano, adiante que são 8 e meia e eu estou quase a fazer 12 horas de escritório e a papelada insiste em não me sair da frente e eu eu eu...já estou tão cansada. vá lá, tenham pena de mim :)
ps: detesto o sentimento de pena, do coitadinho, em mim ou nos outros. eu orgulhosa me confesso! adeus que me vou embora ou não páro - e eu tenho de parar umas 8 horas ou fico inaturável :)
(Mesmo minhas alegrias, como são solitárias às vezes. E uma alegria solitária pode se tornar patética. É como ficar com um presente todo embrulhado com papel enfeitado de presente nas mãos - e não ter a quem dizer: tome, é seu, abra-o! Não querendo me ver em situações patéticas e, por uma espécie de contenção, evitando o tom de tragédia, então raramente embrulho com papel de presente os meus sentimentos.)
O mundo tem uma oportunidade poderosa, como nunca teve, de pressionar a China e o seu brutal desrespeito pelos Direitos Humanos. Eu acredito que em cada um de nós e em cada um dos governos do mundo cabe um direito e um dever de insurreição contra a China e a favor do Tibete, destituído da sua identidade como país físico e autonomia há mais de 50 anos. A bola de neve cresceu, não se pode nem deve parar, os tibetanos vão lutar até ao impossível limite e nós devemos-lhes a nossa solidariedade e a nossa voz condenando um dos países que mais ofende os direitos da humanidade inteira.
Ao contrário do que a frase anterior (não literal) pode dar a entender, o Salvador faz uma apologia da gratidão, da alegria e do prazer de viver. Assume-se feliz porque aceitou as suas limitações e tem dentro de si a inexpugnável flor da esperança e da Fé na constante superação.
Não estou agarrado à cadeira. É ela que está agarrada a mim.
Até aquele momento nunca poderia imaginar que um dia ia desejar ser paraplégico.
Murro no estômago. O Salvador é tetraplégico.
publicado por vague às 13.4.080 comments
"Ser feliz assim" - Salvador Mendes de Almeida (2)
(...) Como sabes, não comecei a ajudar quem precisava de um dia para o outro. Continuo a fazer o que posso com a associação... mas foi só agora, desde há duas semanas, quando comecei a ir ao Hospital de Alcoitão falar com os recém-chegados para reabilitação, que compreendi a verdadeira dimensão, a força que tem estarmos ao lado de quem precisa nos momentos mais difíceis das suas vidas. Eu fui muito apoiado logo a seguir ao desastre. Chegou a minha vez de ajudar aqueles a quem o azar bateu à porta... publicado por vague às 13.4.080 comments
"Ser feliz assim" - Salvador Mendes de Almeida (1)
- Quer dizer...(...) o que é que te leva a pensar que ajudas os outros, mais do que qualquer pessoa? Em que é que ajudas mais os outros do que eu, por ex?
- (...) só para te dar uma ideia, acho que uma pessoa sem quaisquer limitações, sem ter passado por uma experiência de vida mais complexa não tem à partida a mesma sensibilidade para dar algo de si a desconhecidos...
Eu ia interrompê-lo mas ele não deixou.
- Deixa-me acabar... - disse resoluto - ... eu acho que em geral todos os homens, ou quase todos, têm bom fundo, vontade de dar algo de si. Contudo, quando a vida não nos põe à prova, quando não nos mostra sem sombras de dúvida que podemos sempre dar mais de nós mesmos, as nossas boas acções acabem por ficar circunscritas a um grupo limitado de pessoas, aqueles com quem vivemos diariamente. Para teres uma noção do que quero dizer, antes do desastre acho que sempre fui um bom filho, bom neto, amigo, etc... sempre que podia ajudava os outros, facilitava-lhes a vida naquilo que me dizia respeito. Apesar disso nunca me passou pela cabeça ir ajudar um desconhecido. Por exemplo, perder uma tarde com os meus amigos na praia para ir ajudar crianças ou pobres, ou algo do género. Acho que as pessoas que o fazem, sem que tenham passado por experiências realmente marcantes, são pessoas que devem sentir uma vocação especial, um chamamento interior impercepível aos outros. Acho que essas pessoas, que encaram a vida quase com espírito de missão, têm um valor enorme, e que muitas vezes não é devidamente reconhecido. É muito difícil sairmos de nós próprios, darmo-nos aos outros sem esperar nada em troca...
Volto de novo a colocar aqui Mysteries, agora ao vivo e com esta interpretação e voz que nascem de um mundo perfeito. E eu não sei se mergulho nessa perfeição se é ela que mergulha em mim. Se me encontrasse na circunstância clássica da pergunta 'que levaria para uma ilha deserta?', eu diria que levaria comigo as vozes de Beth Gibbons e de Antony Hegarty.
(E também de muitos mais para des-desertificarmos a ilha [smile].)
Não gostaria de ser imortal nem de viver demasiados anos (A abordagem ao demasiados fica para outro post). Se ninguém morresse a vida perderia a sua natureza. E viveríamos angustiados nas Intermitências da morte, Saramago inventou.
Tenho andado calada e sem grande vontade de interagir por aqui. Leio as notícias e exploro os artigos que me suscitam mais interesse; é assim a minha navegação.
Apesar do (aparente) maior tempo disponível, pouco tenho lido, poucos filmes tenho visto, a poucos espectáculos tenho ido. Trabalho e casa e vira o disco toca o mesmo. Depois ligo a televisão e fico ali sem ver nada, a procurar (sei eu lá o quê? se não me fixo em nada) entre as dezenas imensas de canais, alguma coisa de interesse, sendo que este permanentemente se renova, dada a própria natureza do conceito de oferta...Na verdade estou saturada desta espécie de viver alienado daquilo que é importante e de que tanto gosto. Mexer na terra, estender o rosto à chuva, sentir frio para ir buscar um casaco a correr, olhar a praia de inverno. Mas cansada como ando e a hora tardia a que chego a casa, fazem com que me deixe cair confortavelmente em frente à televisão, tão confortavelmente que dali a meia hora estou entediada com a ausência de estímulo. E às vezes dou por mim a pensar mas que programa tão estúpido, e entretanto vejo que não mudei de canal e fiquei ali, parva e alheia a dizer que programa estúpido.
Eu gosto de televisão e não tenho nenhum complexo cultural contra a dita. Acho é que naturalmente nos deixámos condicionar por ela, uma convidado que se instalou sem pedir licença e que marcou os seus ritmos à mesa do nosso jantar...
"Considera que foi criado um novo tipo de jornalismo através dos blogues?
Jornalismo é jornalismo. Descobrir factos e histórias. Verificá-los. Dizê-los. Obter reacções. Se se compreendeu mal uma coisa, ser transparente e corrigi-la. Porém, nos últimos anos muito do jornalismo clássico perdeu parte disso. Os factos nem sempre são verificados. Artigos importantes não são publicados porque, bem, o espaço foi ocupado por uma fotografia da Britney Spears. A tentativa constante de informar tendo em conta "os dois lados" de um assunto diluiu muita da credibilidade dos "media", porque muitas histórias não têm de facto dois lados. Por isso os blogues e a Internet surgiram como um canal alternativo. Aquilo que é bom está de facto a reinventar é o jornalismo."
*Bruno Giussani, considerado um "guru" da web e das novas tecnologias, acredita que a invenção da Internet é um momento de verdadeira democratização. E diz que a net é parte integrante da nossa vida. Expresso, 09.04.2008
Não será preciso ser guru para constatar o óbvio da afirmação acima, pelo que convém ler o que está mais abaixo.
Serve este postal para te dar os parabéns por mais um dia de aniversário. Que te encontres bem, tu os teus é o que desejo. Não me vou alongar mais neste postal porque desde que o meu primo foi para os Correios sabe a vida de toda a gente pelos postais q lê. Ele sempre foi assim coscuvilheiro. Já em pequeno a minha tia o repreendia. Artur, não leves a mal se estiveres a ler isto mas tens que ver que eu tenho razão. Ah é verdade, passa lá por casa logo à noite para ires buscar umas batatas que o tio Zé mandou da terra. Bastet, agora nós. Ai é verdade, este postal da parte da frente, volta-o lá...já voltaste? nem mais! somos nós nos anos 20 quando fomos à capital. Diz lá que não íamos bem arreadas! Eu a timidez de sempre, debruçada sobre o café. E tu, atrevida como continuas a ser, até tiraste um cigarro. Eu até corei! Conta comigo e com os garotos lá para Agosto. O Zé Tó vai fazer a rodagem ao camião e eu vou aproveitar para me encontrar com o meu primo Artur e dar-lhe as batatas que o tio Zé mandou para ele também. Ah e como vão as coisas com o Manel João? Tem paciência, diz-lhe que ele é que manda, deixa-o acreditar que eles coitados querem é isso. Arreia-se o burro à vontade do dono, acho que era a Ti Maria dos pardais que dizia isto ou coisa semelhante. Estou a escrever em letra mto pequenina a ver s cabe tdo neste postal. Um abraço de irmã da tua Sara Joaquina. Artur, entrega o postal!