Os momentos e a vida
Hoje o meu avô foi para um lar.
Se ele ao menos não estivesse triste. Ferozmente lúcido, apercebe-se dos anos que lhe caiem pelos ombros como pedras e o deitam abaixo. Tem uma vida longa, 88 anos de histórias que não me canso de escutar, esteve casado 50 anos com a mulher que escolheu, teve filhos, netos e conheceu bisnetos, foi e é! um homem de carácter, forte como um touro, física e anímicamente. Talvez por ter tido tanto da vida, julgo eu na ignorância do que me é vedado porque por dentro de cada um, cada um é um mundo, talvez por ter tido tanto da vida lhe pesem as memórias tanto como os anos.
Claro que é a lei imutável e eterna da vida. E é um percurso normal. Quantos percursos há que fogem a esta relativa bonomia.. Quantos destinos se cruzam de repente com alguém e a levam sem ela ter tempo de amar a vida. Talvez as pessoas que tenham amado muito, recebido muito, sejam aquelas que mais sentem a solidão da perda. Mas não sei se se pode quantificar a dor da perda versus a dor da ausência do que nunca se possuiu. As que tiveram pouco ou nada não terão buracos enormes no peito, cheios dessa saudade do que nunca lhes pertenceu?
A vida anda a ensinar-me tanta coisa e eu ainda tenho tanto a aprender. Mas o giro é que mesmo assim os 41 anos (e meio!) têm-me trazido uma maior capacidade de aprendizagem e uma paz maior...
Adoro-te, avô.