*Aqui nesta praia onde Não há nenhum vestígio de impureza, Aqui onde há somente Ondas tombando ininterruptamente, Puro espaço e lúcida unidade, Aqui o tempo apaixonadamente Encontra a própria liberdade.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Um belo prémio com que a Maria Árvore entendeu distinguir-me, o da liberdade. Não vou passá-lo a ninguém porque para mim a blogosfera é, em geral, sinal de liberdade e responsabilidade, sendo que uma e outra não existem separadas, de forma digna.
Simplesmente partilho um poema de Sophia, cuja poesia respira profundamente, sempre, a liberdade.
No último dia de 2007 deixo aqui a sua música e os votos de um bom 2008, grata pela vida que tenho (o [in]evitável toque íntimo) e pelas pessoas bonitas que conheço na blogosfera.
Fui ver Call-girl, de António Pedro Vasconcelos. Aparte o facto de cada frase ter uma quantidade excessiva porque gratuita de asneiras, gostei da interpretação da Soraia Chaves, do Ivo Canelas (muito bom), do Nicolau Breyner (fantástico actor este) e de outros actores, mais secundários e igualmente convincentes. Quanto ao écran, esse pertence esteticamente a Soraia Chaves, que parece fazer amor com as câmaras, deslumbrante e suavemente avassaladora, e, se nos conseguirmos abstrair dos seus visíveis atributos, uma promessa forte de actriz.
Do primeiro amor ou enamoramento (teria 10, 14 anos?) pouco me lembro a não ser que à luz de hoje não podia ser amor, mas a verdade é que a essa luz da distância, quente apesar de tudo, cínica um pouco também, a poucos amores do passado serve a forma perfeita do amor.
No quarto da minha mãe havia um toucador com um espelho tripartido. Os espelhos da minha mãe consumiam-me tempo e vaidade, pois já então eu era, como continuo a ser, um pouco mais dada a vaidades que ela, o que não corresponde necessariamente a um melhor resultado final. Era no espelho de três faces que eu me inspeccionava os defeitos e a ele indagava das minhas imaginárias qualidades. De tanto o olhar às vezes partia-me e assim partida e perdida entrava dentro da alma dele: "Quem sou eu? Serei estes olhos, esta boca, este ar perdido?" Tinha 12 anos e era o meu primeiro espelho.
a violência é frequentemente o rosto da cobardia.
publicado por vague às 28.12.073 comments
Ideais
Gandhi, que fazia parte de uma das dinastias mais antigas da Índia, tal como Benazir Buto do Paquistão, dizia isto, e cito:
Quando não se possa escolher senão entre a cobardia e a violência, aconselharei a violência.
Lendo e reformulando conforme as conveniências haverá sempre quem argumente que a violência é a solução, mesmo que dentro dela caiba o ódio, essa paixão destruidora e a intolerância. Afinal se isso significar não ser cobarde... A melhor definição de coragem li-a no livro de Harper Lee, Não matem a cotovia (a coragem não é um homem de arma na mão, é um homem que sem armas luta pelos seus ideais).
publicado por vague às 28.12.075 comments
Miss Peggy Lee e a sua sensual Fever que a ruborizava toda, disse, contrafeita, para Mr. Carlson: E estes rapazes simpáticos, este som que se entranha na pele estão agora a dar-me cabo do juízo e a dar-me música mas se eles pensam que eu me rendi ao cabaz de Natal cheio de diospiros estão bem enganados.
Mas Miss Lee, argumentou Mr. Carlson (chame-me Carl, Peggy...Permite-me que a trate por Peggy?...) sente-se aqui nesta bela poltrona de Le Corbusierque eu sou homem para me sentar ao seu lado e a amparar nalguma fraqueza febril.
Oh Carl...já disse que gosto de cadeiras? As cadeiras são os grandes amparos da vida!
Peggy, gosta de filmes de Natal?
Gosto...tem alturas que sim. No Natal é uma dessas alturas.
Pois eu é mais canções. Só nestas alturas pois claro, só para sentir que estou no Natal (ao ponto a que chegámos; precisamos dos símbolos para chegar ao que eles significam, agora engolia em seco se não estivesse a beber uma imperial fresquinha por causa da febre da Peggy).
Conhece a do Bing Crosby, a de Count your blessings instead of sheep, Carl? Conheço, Peggyzinha, era essa que eu canto à noite quando não consigo adormecer, ponho-me a contar carneiros e antes de chegar ao 25º carneiro já cá não estou.
...er...Mr Carlson?...Essa canção é para falar das graças recebidas, não é para contar carneiros (e põe-se ele a contar carneiros). Vou-lhe oferecer um livro de auto-ajuda a ver se me compreende melhor.
Não, Peggy, oponho-me terminantemente a tal! Ler é sinal de desrespeito pela Natureza, é que por isso que não leio. Por cada livro, por cada edição de 10.000 livros já viu quanta árvore é decapitada? As árvores e os livros, eternamente ligados nesta chacina com que este governo socialista é conivente. Eu um dia se inventasse um romance inventava um em que se queimavam todos os livros para que duma vez por todas as pessoas encarassem a realidade e vissem que só assim se podem salvar.
Carl, profunda a anonimamente eu, Peggy, lhe digo que você devia era ter um blog.O que disse estaria bem num post. Um post estranho mas útil. Escoará a estranheza do pensado e deixar-me-à leve. Ou não. E a si, deixá-lo-ia leve?
(Ai, esta mulher mata-me) Peggy...eu nem tenho internet em casa! publicado por vague às 27.12.074 comments
De todos os traços da beleza feminina, a boca é a única feição que recorda - a única sobre a qual os beijos e as lágrimas deixam marcas que o tempo não apaga.
Ele tinha bastante estabilidade emocional. Nenhuma, mas nenhuma das suas relações durava mais que três meses, mais semana, menos mês. Se isto não é estabilidade, name it.
publicado por vague às 26.12.0711 comments
terça-feira, dezembro 25, 2007
o seu próprio destino
"...a sua imagem separou-se dele e partiu em sentido contrário, para viver as suas próprias aventuras, cumprir o seu próprio destino. Podemos esconder-nos por trás da nossa imagem, podemos desaparecer para sempre atrás da nossa imagem, podemos separar-nos da nossa imagem: nunca somos a nossa própria imagem."
Para os meus caros amigos a quem não desejei de uma forma mais pessoal os meus votos natalícios desejo umas Festas Felizes incluindo festinhas no nariz e beijinhos de esquimó
É o braço do abeto a bater na vidraça? E o ponteiro pequeno a caminho da meta! Cala-te, vento velho! É o Natal que passa, A trazer-me da água a infância ressurrecta. Da casa onde nasci via-se perto o rio. Tão novos os meus Pais, tão novos no passado! E o Menino nascia a bordo de um navio Que ficava, no cais, à noite iluminado... Ó noite de Natal, que travo a maresia! Depois fui não sei quem que se perdeu na terra. E quanto mais na terra a terra me envolvia E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra. Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me À beira desse cais onde Jesus nascia... Serei dos que afinal, errando em terra firme, Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?
1) Filmes de Natal 2) Bing Crosby - Count Your Blessings Instead Of Sheep 3) Profunda e anonimamente eu 4) (Diospiros) 5) As árvores e os livros 6) E estes rapazes simpáticos, este som que se entranha na pele 7) Miss Peggy Lee e a sua sensual Fever... 8) Já disse que gosto de cadeiras? 9) Música 10) Um post estranho mas útil. Escoará a estranheza do pensado e deixar-me-à leve. Ou não.
...............................................Cheguei a este filme, que não vi, através da canção para ele escrita por Irving Berlin. Oiço-a aqui em casa cantada por Rosemary Clooney e oiço-a aqui no blog na voz de Bing Crosby, um e outro protagonistas de White Christmas, filme de 1954 realizado por Michael Curtiz.
...............................................Para esta altura elejo filmes clássicos e mágicos, os igualmente clássicos filmes com o Vasco Santana e o António Silva e a simpática trilogia do Shrek.
...............................................What about you?
"When I'm worried and I can't sleep I count my blessings instead of sheep" publicado por vague às 22.12.072 comments
Profunda e anonimamente eu
Às cinco para as dez sou a primeira a entrar na loja. Meia hora depois já não há rostos mas apenas a célebre multidão anónima de que também faço parte nos olhos dos outros. Escolho, pago, saio. Cá fora ainda mais gente. Caminho devagar e propositadamente com vagar, como que alheia aos dias vorazes da época. Pego em mim lentamente, pedindo ao braço cansado resistência e aos sentidos equilíbrio na vertigem das luzes/canções de Natal/embrulhos/filas e faço o meu caminho, paciente e teimosamente rumo ao lugar secreto.
publicado por vague às 22.12.072 comments
(War and Peace - Pablo Picasso)
Não sei se vá se vagueie sem destino e hora marcada se diga adeus se disser adeus é para sempre ao meu good old melodramatic comic style afinal só os mortos sabem morrer, não é, Mia Couto?
publicado por vague às 22.12.074 comments
quarta-feira, dezembro 19, 2007
(Diospiros)
La Promesse, Rene Magritte
Há frutos que é preciso acariciar com os dedos com a língua
Um post estranho mas útil. Escoará a estranheza do pensado e deixar-me-à leve. Ou não.
(Charles and Ray Eames)
Eu penso que estamos basicamente sozinhos. Ninguém pensa exactamente como nós nem parte das mesmas premissas, referências e origens. Cada um de nós desenvolve-se em direcção a um futuro próprio, essa meta que se cria e adia e se realiza a cada momento e quanto mais individualizados somos mais trilhamos um caminho único e o preço a pagar é a incompreensão dos que trilham diferentes caminhos (todos os outros) ou que estagnam na amorfia dos dias copiados um após o outro. Katherine Hepburn dizia que queria, em primeiro lugar, estar bem, mais que com os outros, com ela própria. Afinal ela era a única pessoa que a ia acompanhar em todos os momentos da vida. Para sempre e sem hipótese de fuga.
publicado por vague às 16.12.074 comments
How can i tell you what is in my heart? How can i measure each and every part? How can i tell you how much i love you? How can i measure just how much i do?
How much do i love you? I'll tell you no lie How deep is the ocean? How high is the sky?
How many times a day do i think of you? How many roses are sprinkled with dew?
How far would i travel To be where you are? How far is the journey From here to a star?
And if i ever lost you How much would i cry? How deep is the ocean? How high is the sky?
(Letra de Irving Berlin, um dos maiores compositores americanos do séc. XX)
Esta letra tem uma música lindíssima a dar-lhe, como dizer, corpo para voar. Costumo ouvi-la na rádio Class FM, 106.2, Montijo, cantada por uma voz feminina que não sei identificar. Procurei-a no YouTube e não encontrei nenhuma interpretação de jeito, passe a expressão atamancada. Dão-se alvíssaras a quem encontrar um intérprete que a saiba servir (Não é a mim, é à canção). Obrigada.
publicado por vague às 16.12.075 comments
No orçamento que pedi, devidamente embrulhado em folha xpto e envelope a condizer, com cada coisa no seu lugar e perfeitamente clara e às cores para não haver confusão entre letras e números (agora tive um ataque de tosse, desculpem, é do tempo) um dos items era, como é de norma, o prazo de excussão da obra. Eu vou aceitar. Duas semanas é prazo razoável, é, sim senhor, pode avançar.
Leio este poema agora e pela primeira vez e já o coração o repete, tão apaixonado o ritmo que lhe provoca. É uma das minhas maneiras de descansar da vida e de mim este ler poesia, este conhecer novos poemas, este descobrir de sons que estavam aqui desde sempre - soube assim que os ouvi.
Sento-me então a olhar o rio, os pensamentos formam cardumes que contra a corrente se insurgem mas as águas são inexoráveis; olhando-as, a superfície cintila, propaga-se como se fossem notas de um piano na garupa de um cavalo que se dirige para o mar. O Douro bebe as cores da cidade, sobre elas eu abro o coração em que te encontras, as colinas emolduram as raizes que à terra nos ligam. Para os meus olhos é momento de pausa: as coisas que interrogo não resistem à maré, não dão respostas; perdem-se no mar como tudo o que a memória não reteve. Mas este rio já foi longamente folheado, nele escrevemos o romance que nos deu uma casa, nos cortou o cabelo, nos afastou das rugas, nos entregou o azul (tecido, nuvem, divã, janela...), o voo das artérias, lugar do corpo, portas que amanhecem, espelho onde fazemos fluir a vida. Acordes da guitarra que forja o horizonte, que guia o sinuoso voo das gaivotas e acaricia a pele que rasga atalhos no interior dos sonhos. Estarei vivo enquanto assim me guardar teu coração. E no seu lucilar, esta água imita o fogo que devora sombras e escombros, libertando a asa que no sangue respira. A foz está próxima, mas o horizonte é o teu olhar. No leitor do carro, a guitarra flexível sublinha o que divago; os acordes disparam, encontram-me na trajectória do seu alvo.
So, what is Buddhism? Buddha used the best description himself. During the 1,500 years the teachings existed in India, they were called Dharma, and for the last 1,000 years in Tibet, the name was Chö. Both mean “the way things are”. Understanding “the way things are” is the key to every happiness. Buddha himself is both teacher, example, protector and friend. His help allows being to avoid suffering and to enter a state of increasing bliss while also liberating and enlightening others.
The way things are – a living approach to Buddhism for today’s world Lama Ole Nydahl
publicado por vague às 12.12.070 comments
Vai decorrer em Lisboa, no dia 12 de Dezembro de 2007, uma palestra com o Lama Ole Nydahl.
Lama Ole Nydahl nasceu em 1941 e é um dos poucos ocidentais totalmente qualificados como lama e professor de meditação na tradição budista Karma Kagyu.
Em 1969, Ole Nydahl e a sua mulher Hannah tornaram-se nos primeiros alunos ocidentais de Sua Santidade o Décimo Sexto Gyalwa Karmapa. Depois de completar três anos de estudos de filosofia Budista e de prática intensiva de meditação – incluindo a transmissão de uma prática única do Budismo Caminho do Diamante chamada Morte Consciente (tib. Phowa) – Ole Nydahl começou a ensinar Budismo na Europa a pedido do Décimo Sexto Karmapa. Lama Ole transmite desde então a bênção da linha numa cidade diferente quase todos os dias, viajando e ensinando em todo o mundo. A profundidade do seu conhecimento e a dinâmica dos seus ensinamentos inspiram milhares de pessoas nas suas palestras e retiros de meditação.
Desafiando os conceitos estabelecidos sobre a vida e o Budismo de uma maneira pouco ortodoxa, Lama Ole tem sido um dos principais responsáveis pela introdução do Budismo no Ocidente e já estabeleceu, até hoje, mais de 557 centros budistas do Caminho do Diamante (Diamond Way) em 44 países, contando Portugal com dois centros, um em Lisboa e outro no Algarve. Lama Ole é autor de vários livros, incluindo The Way Things Are, Entering the Diamond Way, Mahamudra, Riding the Tiger A sua síntese única de estilo moderno com sabedoria antiga ajudou a criar o maior número de alunos praticando os métodos do Budismo do Caminho do Diamante no Ocidente.(todos da Blue Dolphin Publishing, USA) e The Great Seal (Fire WheelPublishing, USA).
Isto já parece aqueles anúncios que têm a mania que criam suspense :)
Às 20h00 do dia 12 de Dezembro no Hotel Holiday Inn Lisbon-Continental, sito na Rua Laura Alves, 9, Lisboa. publicado por vague às 11.12.072 comments
Uma viagem pelo budismo
Meus caros
Alguém que seja budista ou principiante ou interessado ou receptivo a filosofias enriquecedoras (o adjectivo é meu e é ousado porque ando a descobrir a minha verdade no meio disto tudo) de encarar a viagem pela vida?
Hoje ando com o dia às costas prevendo um amanhã igual e com a minha chama a arder tão disfarçada. Que enrolado estou dentro de mim. Com medo não sei do quê. Vou imaginar-me numa cápsula protectora e dar o peito às balas. Se calhar são de borracha (longo suspiro). Apetece-me não ser eu... Ass: Garfield publicado por vague às 10.12.072 comments
domingo, dezembro 09, 2007
Arte poética
A dicção não implica estar alegre ou triste Mas dar minha voz à veemência das coisas E fazer do mundo exterior substância da minha mente Como quem devora o coração do leão
Olha fita escuta Atenta para a caçada no quarto penumbroso
Sophia de Mello Breyner Andresen
publicado por vague às 9.12.070 comments
sábado, dezembro 08, 2007
Pijamas. O Movimento Pijaminha.
Se há coisas que me fazem sentir que este blog pode tentar ser útil para além de ser palco do meu próprio prazer de escrever e partilhar estas coisas da escrita e do pensamento, elas estão ligadas a situações como esta para a qual chamo a atenção.
Segue o apelo.
Olá a todos! Nesta altura em que finalmente o frio começa a dar um arzinho da sua graça e as luzes na rua anunciam o Natal à porta, venho mais uma vez fazer-vos um convite especial. Esta ideia surgiu há dois anos e hoje já me atrevo a apelidá-la de "Movimento Pijaminha" pelo sucesso que têm tido os esforços conseguidos! Pela 3ª vez consecutiva, venho apelar à vossa boa-vontade e pedir-vos que se juntem a mim no esforço de tornar o Natal de algumas crianças mais quentinho.
O que se pede é muito simples... e é tão fácil ajudar! São necessários (principalmente) pijamas para as crianças que estão no IPO a fazer tratamentos de quimioterapia... Após os tratamentos, os pijamas ficam muito sujos e gastam-se muito rapidamente.... Só por curiosidade, no ano passado foram entregues 76 pijamas... e o IPO ficou muito satisfeito com esta dádiva.... este ano vamos repetir a façanha e se possível ultrapassar este número..... As necessidades existentes passam pela falta de pijamas, pantufas, chinelos, meias, robes e fatos de treino . Sei que a vida não está fácil mas, dentro das vossas possibilidades peço-vos que participem, comprando ou obtendo, junto de amigos e familiares, agasalhos que já não sirvam. E já agora, se acharem que sim, espalhem a palavra!
(...) Entre existires e não existires antes não existires, é mais inteiro, deixa menos dúvidas dentro do crânio, ao lado dos ossos normais. Entre mulher e homem o melhor é não teres mesmo por onde escolher, vestir saia-casaco ou fato completo, usar até, em dias de festa, as tuas peles virtuais.
Antigamente todos os contos para crianças terminavam com a mesma frase, e foram felizes para sempre, isto depois de o Príncipe casar com a Princesa e de terem muitos filhos. Na vida, é claro, nenhum enredo remata assim. As Princesas casam com os guarda-costas, casam com os trapezistas, a vida continua, e os dois são infelizes até que se separam. Anos mais tarde, como todos nós, morrem. Só somos felizes, verdadeiramente felizes, quando é para sempre, mas só as crianças habitam esse tempo no qual todas as coisas duram para sempre.
José Eduardo Agualusa, in 'O Vendedor de Passados'
publicado por vague às 6.12.075 comments
Res...pi...rar
Como é que nos podemos cansar do ar que respiramos?...
Escrevi pensando no que sinto, a saber, nunca me canso daquilo que é o meu respirar (e a poesia faz parte da minha respiração mais profunda); Como seria possível cansar-me? E leio, saído de mim e já autónomo o pensamento, e interpreto-o como vindo de alguém que está tão cansado de tudo, que se quer alhear até do que lhe dá vida, do ar que respira.
Nunca se pode colar o texto à pessoa, pois não? Nunca se pode dizer nunca?
Pirata, chegue-se à frente. publicado por vague às 6.12.072 comments
quarta-feira, dezembro 05, 2007
Aniversário
Salva-me agora, não desta morte ou de outra mas de ir vivendo assim seguramente sem música nem arte, e com o amigo ausente. No escuro ainda levantei-me e vi a antiga madrugada que nascia leve e primeira com a luz macia. E quem me ouvia, se não os mortos mansos e generosos sob a lousa fria? É certo que sonhei que me deixavas amar e ser amado, como quem sem mérito nem rosto me fizeste; mas era de cantor que me mandavas às portas da cidade ver arder o dia.
Há uns meses atrás pensei que daquela vez é que era para a vida. Depois de inúmeras tentativas sempre achando de cada vez "agora é que é" com um ar convicto e até um pouco emocionado dada as anteriores certezas postas afinal em causa pela óbvia dificuldade do empreendimento, ter chegado a um lugar de alguma acalmia cá em casa foi bom mas não durou mais que 4, 5 meses?
Avancemos, pois pormenores domésticos são despiciendos neste post. Hoje deu-se uma revelação. De repente vi a casa com outros olhos e reparei em ângulos nunca vistos - o que quase me parece mentira tendo em conta que os móveis, sofás, cadeiras, quadros, etc, já estiveram em todas as paredes e a sala de estar, a maior vítima destas mudanças, andou numa roda perfeitamente stressante, mas sempre por bons motivos. Só me faltou - por culpa da lei da gravidade - voltar a sala ao contrário no sentido de o chão ser o tecto e vice-versa. E hoje, hoje! Hoje (não me canso de dizer hoje), hoje parece que a sala nasceu para estar como está. A sala e o que lá está dentro foram feitos para serem felizes juntos, nota-se-lhes nos olhos que me espreitam, seguros e até um pouco arrogantes. Até os inúmeros pregos espalhados pelas paredes, fruto de diversos e absolutamente definitivos estados de espírito, foram aproveitados, leia-se camuflados, para suporte de nova disposição absolutamente inovadora! É desta? É, é. Tenho a certeza!
............................ publicado por vague às 4.12.072 comments
segunda-feira, dezembro 03, 2007
From Here To Eternity
...Em homenagem a Deborah Kerr (1921-2007) num papel que se tornou tão imortal como o beijo.
Gosto bastante desta fotografia. Retrata a montra de uma galeria de arte e quase se ultrapassa por se assemelhar a um quadro feito de vários quadros dentro. Gosto das cores, quentes e luminosas, ardentes. Gosto da forma como a tirei, sem enquadrar demasiado, sem procurar a perfeição, antes tentando captar o impulso que me fez escolher o objecto, que foi tão simplesmente o apelo da cor e da luz.
publicado por vague às 3.12.073 comments
domingo, dezembro 02, 2007
Ministro da Ciência solidariza-se com vítimas de praxes académicas
O ministro da Ciência e Ensino Superior, Mariano Gago, solidarizou-se ontem com os estudantes vítimas de acidentes “gravíssimos” ocorridos recentemente durante praxes academias e apelou “mais uma vez” às instituições de ensino superior que “rejeitem a repetição de práticas absolutamente inaceitáveis”.
No mesmo comunicado diz-se ainda que, “sem prejuízo do necessário apuramento de responsabilidades civil e criminais”, há um novo Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES), já em vigor, que determina que constitui igualmente infracção disciplinar “a prática de actos de violência ou coacção física ou psicológica sobre outros estudantes, designadamente no quadro das ‘praxes académicas’”.
Um estudante da Escola Superior Agrária de Coimbra sofreu, quarta-feira, um traumatismo vértebro-medular no âmbito de uma actividade de praxe (...).
O jovem, de 20 anos, sofreu um traumatismo vértebro-medular na região cervical que lhe provocou tetraplegia (perda dos movimentos das pernas e braços), revelou o presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar de Coimbra (CHC-EPE), Rui Pato. (...)
Segundo o Diário de Coimbra, o jovem sofreu esta grave lesão após ter-se lançado, de cabeça, de um escorrega com um desnível de dois metros para um túnel, durante uma actividade de praxe.
Copio a notícia no próximo post e espero e desejo que este facto não seja abafado e levado à condição de um acidentezinho, coitadinho, ele teve azar, quem é que o mandou respeitar a praxe? mas seja amplamente divulgado e que se tenha coragem de pôr travão às práticas atentatórias da dignidade humana e às que ponham em causa a integridade física e/ou mental dos envolvidos.Que se ponha em causa as praxes, pelo menos esse tipo de praxes que envolvem aquelas práticas. E, se não for pedir muito, que os directores destas escolas assumam a sua parte na responsabilidade. Dito isto eis que leio as declarações do Presidente do Conselho Directivo da Escola Superior Agrária de Coimbra, Carlos Dias Pereira. Foi uma reacção inusitada. Se calhar quis fazer uma manobra de exibição. publicado por vague às 2.12.070 comments
acto ou efeito de receber; acto de receber, com certo cerimonial, visitas ou cumprimentos; cerimónia em que um novo membro da academia, corporação, etc. é admitido ou empossado; acolhimento; publicado por vague às 2.12.070 comments
Não sei o que estes olhos como agora olham transmitem. Temos vários olhares, várias memórias que lhes estão inscritas, neles falam vários tons de voz e neles se reflecte, ou não, toda a nossa (i)mortalidade.