La marée haute
Here I go again
Hoje de manhã enquanto conduzia ao sol, braço de fora e tal, óculos escuros e cabelos colados ao nariz (tenho que pôr uma ventoinha pequena no chão do carro para mandar o cabelo para trás, sempre fica mais sexy) eis que a MegaFM toca a fabulosa
Here I go again dos Whitesnake.
(passe a publicidade, eu sou a que está à direita na foto)
O meu post-it de hoje
Tenho tido pouca vontade de escrever no meu blog e de ler blogs. Nada de especial se passa na minha relação com a blogosfera, esclareço, para o caso de existirem algumas dúvidas, suposições e aparentes coincidências.
De alguma forma sinto-me na obrigação de dizer isto pela atenção e carinho que tenho recebido e pela forma como me fazem não sentir esquecida. Acho que vos devo estas breves palavras.
Um abraço grande a cada um de vós que sente que este abraço o toca.
A Arte de ser feliz*
Houve um tempo em que minha janela
se abria sobre uma cidade que parecia
ser feita de giz. Perto da janela havia um
pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra
esfarelada, e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre
com um balde e, em silêncio, ia atirando
com a mão umas gotas de água sobre
as plantas. Não era uma rega: era uma
espécie de aspersão ritual, para que o
jardim não morresse. E eu olhava para
as plantas, para o homem, para as gotas
de água que caíam de seus dedos
magros e meu coração ficava
completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o
jasmineiro em flor. Outras vezes
encontro nuvens espessas. Avisto
crinças que vão para a escola. Pardais
que pulam pelo muro. Gatos que abrem
e fecham os olhos, sonhando com
pardais. Borboletas brancas, duas a
duas, como refelectidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem
personagens de Lope de Vega. Às
vezes um galo canta. Às vezes um
avião passa. Tudo está certo, no seu
lugar, cumprindo o seu destino. E eu me
sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas
felicidades certas, que estão diante de
cada janela, uns dizem que essas coisas
não existem, outros que só existem
diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a
olhar, para poder vê-las assim. *Cecília Meireles
A beleza é eterna. E a arte eternamente livre (dizia Kandisky). Por isso 50 anos depois de ser captado por uma câmara, este é um dos beijos mais míticos do meu imaginário.
(Era eu na altura uma garotinha de fraldas)
Le Baiser de l'Hotel de Ville, Paris, 1950 Robert Doisneau
História do Senhor Mar
Deixa contar...
Era uma vez
O senhor Mar
Com uma onda...
Com muita onda...
E depois?
E depois...
Ondinha vai...
Ondinha vem...
Ondinha vai...
Ondinha vem...
E depois...
A menina adormeceu
Nos braços da sua Mãe...
O Livro da Tila,
Matilde Rosa Araújo
Monólogo de alguém
Sinto-me fora do mundo. Apetece escrevê-lo para que as palavras e os sentimentos não impludam e por outro lado receio a exposição. Não quero expôr a minha vida mas a escrita sempre foi a melhor maneira de me encontrar comigo. Fecho os comentários para que os meus leitores não se sintam obrigados a comentar-me ou a dar uma palavra simpática, um sorriso? Fecho-me ainda mais? Não vou aos blogs amigos? Por vezes sinto que nada do que me possam dizer me afastará deste mutismo que me encerra, deste querer voar e sentir que não consigo. Não me reconheço.
Fora do mundo. Fora de mim.
Por dentro dos livros
Está bem, ri-te se quiseres. Quando eu me entusiasmo, entusiasmo-me mesmo, e pronto, as coisas são como são. Às vezes sabe bem deixar que o sangue jorre, que o coração fale por nós. Será que isso faz de mim um tolo? Talvez faça. Mas antes isso que andar amargurado, é o que eu acho, antes seguir as lições do Pai Natal do que passarmos toda a nossa vida nas garras do embuste. TimbuktuPaul Auster
Mimo
É bom ser mimado, mimar. Alguém que está nas minhas memórias de vida disse-me, um dia com carinho,
Do que mais gostas é de mimar e de ser mimada.É mimo, carinho de que precisamos mesmo quando nos afastamos. Tantas vezes o afastamento é inversamente proporcional à necessidade de mimo. E também tantas vezes os outros têm medo de se aproximar de nós, porque não sabem, não sabem como chegar, porque entendem o nosso silêncio como rejeição, indiferença, o querer estar só e enfiada na concha. E não é.
Nem sempre se consegue verbalizar os silêncios cheios, porque são muitos os pensamentos, apesar da aparente placidez, porque nos esgotam, porque certas circunstâncias da vida nos parecem aterradoras quando acontecem. Falo por mim que tenho dificuldade em verbalizar o que me inquieta. Aqui não vou falar disso, lá fora tantas vezes não consigo, nem com os amigos reais, incluindo os virtuais que já não são virtuais.
Quis escrever isto para não ficarem presas estas palavras neste silêncio com que luto para não cair no abismo do eterno círculo e porque um post azul me inspirou e verbalizou muito do que é meu, apesar de cada um falar de si e por si.
E para ti segue via expresso
o meu mimo.
A surpresa
Portrait
David Olivier
Tenho desde ontem pousado em cima da mesa um desenho a carvão do meu rosto. Feito com amor por um amigo desinteressado e atento, presente em todas as alturas da minha vida, boas e menos boas, desde há 3 anos, altura em que nos conhecemos (quem disse que as grandes amizades são só as antigas de muitos anos solidificadas?) e a nossa parece uma amizade sem tempo, como se não tivesse princípio nem fim.
O desenho a carvão que só vi depois de completamente acabado, está perfeito. Captados os traços, a expressão dos meus olhos, sou eu mesma ali, é olhar-me ao espelho. Deu-mo ontem e eu ali surpresa, feliz e embevecida no meio da esplanada. Apetecia-me desenrolar o desenho e mostrá-lo a toda a gente. Obrigada, rapaz :)
Unchain my heart*
...E juntando mais um elo à cadeia, enviada pela
Isabel e pela
Azul...lá vai disto.
Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?Esta pergunta tem ar de gato escondido com rabo de fora. Então, se eu não pudesse sair (do livro, do fogo ou da ausência de literatura?) ficava lá dentro, à procura de um telefone para ligar para os bombeiros da minha zona.
Já alguma vez ficaste apanhadinho por um personagem de ficção?Já me senti seduzida e intrigada pela capacidade de o escritor criar aquelas personagens. As personagens criadas por Mario Puzzo (A família) ou G G Márquez (Cem anos de solidão), a personagem criada por Ana Teresa Pereira (O rosto de Deus), as personagens de Clarice Lispector, Virgílio Ferreira. Algumas são demasiado densas e dolorosas.
Houve dois livros que me deixaram meio apanhadinha, sim, lidos que foram na adolescência em que o mundo parava nas férias grandes e o tempo era meu como nunca mais. Li
Poltergeist de férias na praia e andava amedrontada e desconfiada dos écrans de televisão. Não vi o filme mas o livro foi aterrador de ler.
Outro de que não me esqueço, foi
A mosca, de Kafka. Trouxe-o da biblioteca da escola, tinha uns 15 ou 16 anos e o meu medo maior quando me deitava à noite era acordar insecto no dia seguinte.
Qual foi o último livro que compraste?Foi
Aprendizagem ou o livro dos prazeres, de C. Lispector. Ia eu sossegadinha comprar o jornal quando vejo um livro de uma escritora amada a preço generoso. Até me esqueci do jornal...
Qual foi o último livro que leste?A Lentidão, de Kundera. Demorou taaanntooo tempooo...
Que livros estás a ler?Caoticamente estou a ler ou a catrapiscar vários livros. Um de Lya Luft, um livro de entrevistas de Inês Pedrosa, ando com o Paul Auster às voltas com o seu cão e tenho uma biografia de mulheres para ler, também de Inês Pedrosa.
Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?Um homem que fosse um livro vivo e me contasse histórias do tempo antes.
Um livro interactivo com dois cd's.
Um livro de auto-ajuda escrito por mim mesma: 'Como sobreviver numa ilha deserta até chegar o navio resgatador'
Um livro de poesia.
A Bíblia.
A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?Vou enviá-lo à
Luna, à
Bastet e ao
Yardbird.
Porque sim.
E os vencedores são?Não é sábado o sorteio do totomilhões?
*Joe Cocker
Tempo sem tempo
Ah que bem me sabem estes dias de quase descanso! Andar sem relógio e conseguir distrair-me ao convencer-me que não sou insubstituível e tudo se resolve. Se não hoje, amanhã, com calma e com as energias renovadas. E nestas diligências burocráticas caseiras (lâmpadas para substituir, estore para arranjar, resolver o problema da net cabo - um homem faz muita falta para estas coisas sobretudo se também tiver a liberdade de pensar nos chocolates ferrero enquanto faz de chauffeur, vulgo chófer, que este blog não se quer armar aos cucos) e umas saídas para almoço e umas comprinhas mimosinhas, já são 5 meia, diz o sino da igreja. Vou ver o filme
As virgens suicidas a ver se dou cabo da serena disposição. Eu devia era ter mais juízo, ou então afogá-lo de vez!
Eu blogo, Tu blogas, Ele bloga
Podendo ser a blogosfera mais que um local inventado à nossa medida com a dose de realidade que lhe queiramos dar, verifico com agrado que quando se salta a vedação para o outro lado há surpresas agradáveis. Gente como nós, que existe mesmo. E que escreve num computador, como eu escrevo e me escondo/mostro, olhando o mundo através desta pequena janela imensa.
Desde que pé ante pé entreabri esta porta dos blogs, várias reflexões se fizeram sentir. Por um lado, a constatação da quantidade de blogs que existem e estão para existir, no que isso significa de democratização de acesso à emissão de pensamentos,
apetecimentos, notícias.
Antes disto, outra reflexão me apareceu como natural: o impacto e a interrelação entre os blogs e os meios tradicionais de comunicação social. E até que ponto se poderá vir a considerar este meio como mais um meio de comunicação social, com todas as implicações que esse estatuto traz.
Terceira questão: O que se escreve, livre de constrangimentos e ajudado pelo anonimato de quem assim o decide é potenciado, no bem e no mal. Tendo consciência que posso ser lida, que sou lida ( e gostando de o ser, claro), escrevo para mim e por mim - ou seja, é um espaço de liberdade absoluta.
Ora, a
Mar apanhou as pontas soltas e esparsas das reflexões da blogosfera e organizou na biblioteca municipal de Beja um encontro/diálogo com alguns bloggers mais mediáticos da nossa praça (sem desprimor para todos os que não estão lá a representar-se a si mesmos e que têm uma qualidade fantástica) aberto a todos quantos queiram participar. É no dia 23 de Abril, Dia Mundial do Livro e conta também com a participação da escritora espanhola Rosa Mantero, a mulher de
Paixões,
Histórias de mulheres e outro livro que tenho curiosidade em ler,
A louca da casa.
Parabéns,
Mar e a todos os que mobilizaste ou vice-versa para este diálogo por um caminho novo, a ser percorrido, e com tanto a percorrer. Mulher de garra esta! Beijos, Mar, sweet Mar.
Nasce o sol e não dura mais que um dia* (Gregorio de Mattos)
Lucca, Tuscany Italy
Charlie WaiteWe have no more beginnings* (George Steiner)
( *Copiadas as frases do
Aviz. )
O meu mercedes é maior que o teu
Conversando, descobri que o nome acima antes de ser nome de um bar no Porto (ainda existe?) é em primeira mão nome de livro do nigeriano Nwankwo Nkem. Segundo a
LN,
é uma sátira política em que o humor contribui para a narrativa.E falando de livros com humor, há sugestões, para além do clássico
3 homens num bote de Jerome K. Jerome?
Tom Sharpe (Wilt?) não me entusiasmou e falaram-me de Terry Pratchett mas o enredo (dragões e fadas) não me seduz por aí além.
Do autor de
3 homens num bote, não leiam
3 homens de bicicleta! A fórmula não resultou e o livro gira à volta de outra aventura, esta entediante. Lembro-me de o abrir, toda satisfeita à beira da piscina numas férias e de me forçar a ler um pouco mais só por pena de o deitar logo a um canto.
Vou continuar nestas férias em part-time a ler as entrevistas da Inês Pedrosa e deixar para mais tarde o G. G. Márquez.
Entretanto, aceita-se a sugestão de um livro interessante, leve e divertido, inteligente e com bom humor :)
Boa noite ou bom dia. E boa semana.
É sábado
Lazy Daisy Kay Widdowson
O abraço
Em conversa, diz-me a S. que o abraço longo e apertado que a minha mãe lhe deu, naquela ocasião particular, foi algo que a marcou profundamente e lhe aquietou o coração. Algo que a minha mãe deu espontaneamente foi recebido como algo de inesquecível porque inesperado, pois apenas as ligava uma conversa partilhada, talvez dolorosa para a S.
Estou aqui, disse o abraço.
Despedi-me dela a sorrir com vontade de lhe dar também um abraço. Mas não dei.
Palhaços que choram
Um dos meus poetas de eleição, humano porque sabe e aceita que somos feitos de muitas cores e matizes, de sóis e sombras, sonhos e pesadelos, anjos e demónios. E de dores e angústias que nos rasgam e alegrias que nos ficam guardadas, ambas cicatrizando na memória.
Livro de Horas
Aqui, diante de mim,
eu, pecador, me confesso
de ser assim como sou.
Me confesso o bom e o mau
que vão ao leme da nau
nesta deriva em que vou.
Me confesso
possesso
de virtudes teologais,
que são três,
e dos pecados mortais,
que são sete,
quando a terra não repete
que são mais.
Me confesso
o dono das minhas horas.
O das facadas cegas e raivosas,
e o das ternuras lúcidas e mansas.
E de ser de qualquer modo
andanças
do mesmo todo.
Me confesso de ser charco
e luar de charco, à mistura.
De ser a corda do arco
que atira setas acima
e abaixo da minha altura.
Me confesso de ser tudo
que possa nascer em mim.
De ter raízes no chão
desta minha condição.
Me confesso de Abel e de Caim.
Me confesso de ser Homem.
De ser o anjo caído
do tal céu que Deus governa;
De ser o monstro saído
do buraco mais fundo da caverna.
Me confesso de ser eu.
Eu, tal e qual como vim
para dizer que sou eu
aqui, diante de mim!Miguel Torga
A rua que tem o meu sentido
O sol aquece os olhares. Sabe a Verão, a cores fortes, vivas, suaves. Apetece andar por aí, calcorreando caminhos por dentro, por fora.
Hoje de manhã na rádio, fixou-se em mim uma frase de uma canção,
encontro a rua que tem o meu sentido, qualquer coisa assim.
Oiço agora músicas belíssimas, seleccionadas por uma pessoa desconhecida e amiga. Contraditório.
Estes meios em que nos movemos são os nossos palcos, são como peças que representamos, ou melhor,
que nos representam e toda a representação como forma de comunicação é por natureza incompleta mas tem sempre um pouco de nós (mesmo do que não somos). O
nós que ao vivo pode não ter a desenvoltura ou a timidez de quem escreve, pois
este nós é uma
parte do todo maior e, sendo incompleto, é inteiro.
Boa sexta-feira, dia em que as semanas deviam começar.
APADEDICA new
Chamei lá a casa o senhor que arranja a máquina de lavar. Afinal não havia nenhum problema - a espuma que saía da dita e me transformava a cozinha numa sedutora e luxuriante casa de banho era resultado do uso do detergente
manual na máquina de lavar.
Etiquetas: apadedica
Flowers
Cat Reading
Helga Sermat
Some men never think of it.
You did. You'd come along
And say you'd nearly brought me flowers
But something had gone wrong.
The shop was closed. Or you had doubts -
The sort that minds like ours
Dream up incessantly. You thought
I might not want your flowers.
It made me smile and hug you then.
Now I can only smile.
But, Look, the flowers you nearly brought
Have lasted all this while.
Wendy Cope
(Agora sim, que isto está compostinho e eu sou boa aluna, JPP)
Bom dia!
Sem assuntos
É rara a mulher portuguesa que chegada à casa dos 30 não pensa em atirar para trás das costas o tema idade. E começa por sacudir o latino cabelo castanho para os tons alourados.
Sempre tive certo para mim que era coisa que nunca iria fazer, nuances e cabelos claros que não são meus - é que essa vontade trintinha do intemporal precisamente delimita a faixa etária e além disso, todo o mulherio o faz (mas que são lindos os fiapos de luz e cor, quando bem feitos, são). Para marcar a diferença e não me juntar à turba enveredei pelo caminho solitário da cor natural. Fartei-me, claro, e aos 30 e tais fui contra estas inabaláveis convicções e experimentei as nuances louras que prometera a mim mesma não usar.
Agora sou de novo e naturalmente morena para sempre.
Gosto da palavra
sempre. É tão relativa.
***
O Prícipe Carlos anda muito feliz com a sua Camilla. Ainda mais depois do aval do ex-marido dela, que disse:
É uma mulher e peras! Mr. Parker-Bowles é o ex-marido que toda a ex-mulher devia ter.
***
Será do cansaço, de ser membro honorário auto-indigitado e fundador da APADEDICA, mas há pouco quando estacionei o carro falharam-se-me os comandos da memória. Em vez de
não pensar,
pensei se deveria deixar o carro em 1ª ou em marcha-atrás.
***
Ando a ler
A lentidão, de Milan Kundera. Deve ser por isso que ando ao ralenti. Ainda bem que não comprei
A ignorância.
***
A seguir perfila-se, passando à frente de outros,
Memórias de mis putas tristes, de G. Garcia Márquez, senhor de um dos livros mais extraordinários que li até hoje:
100 anos de solidão.
***
E a blogosfera? Não tenho lido nada, tenho trabalhado pouco, estou mais ou menos em semi-férias de tudo.
Contem-me coisas de cá :)
Legalmente morena
...de novo.
Pink?
Eu ontem disse que me desforrava daquele punho cerrado masculino a ordenar a ida para a cama. E não é que hoje o blog me aparece cor-de-rosa?
Para a cama já!
Josef Koudelka
Uma maré tão calma que até enerva
Vocês desculpem, aliás, vou começar de novo, não vou pedir desculpa a ninguém, o blog é meu! Apetece-me dizer uma asneira, partir loiça, sair por 3 dias e voltar. Escapulir-me dentro duma cápsula do tempo que não me leve nem para o passado nem para o futuro mas que me congele (além do mais a crioterapia faz muito bem aos tecidos). Não vou contar o que me preocupa, que é o stress (bendita palavra que serve para tanta coisa), e a falta de memória e de concentração e o infinito cansaço. 'Infinito enquanto durar', fica bem dar um toque de poesia ao prosaico dos dias. Merda! Não há-de ser nada, digo isto também infinitamente, farta das palavras. Este blog está a tornar-se chato! Estou aqui estou ali a mexer onde não devo.
E boa tarde para todos. Há dias piores e dias melhores diz na sua divina sapiência o povo (esta é outra palavra que me irrita). E eu que não gosto de lugares comuns, à falta de incomuns aceito aqueles torcendo o nariz (arrebitado, por sinal).
Até já já já.
Etiquetas: "qualquer coisa em forma de assim" a o'neill
Infinito enquanto dure
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa lhe dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dureVinicius de Moraes
É um dos dos poemas mais belos, apaixonados e desprendidos sobre o amor. E ao mesmo tempo sabe a pouco, como se o ideal no plano dos sentimentos amorosos fosse a paixão intensa e implacável, que nos acertasse para sempre qual flecha de Cupido.
Ouvido de passagem
- Gostas mesmo muito de poesia, não é?
- Ao contrário de ti, que não lhe dás muita confiança.
- Prefiro o pragmatismo das palavras com sentido único, certo, confiável. E a poesia é sonhadora demais para mim.
- Mas faz-me respirar um ar mais puro, sabes? E ao que chamas de incerto e sonhador eu chamo silêncio, paz. É como ter um encontro marcado comigo.
- Cinema?
- Vamos. Etiquetas: "qualquer coisa em forma de assim" a o'neill
Se
Se não transgredisse e não esquecesse o adiável. Se fosse pelo caminho habitual.
Não teria ido ao princípio da noite sentar-me quieta em frente ao rio, silenciosamente bebendo os ruídos do vento e a leveza do ar mais amplo.
Colin Firth

Aqui está alguém com quem não me importava de partilhar silêncios :)
Que o outro note quando preciso de silêncio e não se vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta.Lya Luft
Post optimista :)
Não sou fundamentalista em quase nada, mas persistente o suficiente para lutar e dar a cara quando algo me desperta paixão. Ultimamente cada vez vão sendo menos as coisas que me obrigam a dar o melhor de mim porque não as vejo, apesar de elas estarem ao alcance da minha visão. Olho algo que está ali à minha frente mas a exaustão e o cansaço embaciam-me o olhar e entorpeçam-me o sentir e esqueço-me, quero-
me esquecer.
Estas águas mornas em que me sinto chapinhar ameaçam afastar-me daquilo que mais gosto de fazer. Que são muitas coisas, que vão também elas sendo sucessivamente adiadas pelos constrangimentos do quotidiano que me revolta mansamente e por esta actual falta de vontade assassina de voar.
Um caminho infinito
Quantos são os caminhos que um homem deve percorrer para poder considerar-se um homem?João Paulo II
(1920-1985)
Dia das mentiras
Woman's Hands Holding Cigarette
Corbis Collection