La marée haute
Red Horizon Peter Wileman
Um quadro ou uma foto podem continuar o discurso anterior/interior.
Entrega ao deus interior
Escrever é um acto de disciplina, não espero que a inspiração apareça, sento-me e escrevo, dizem,
às vezes sai a ferros mas sai do ventre, digo eu.
Parabéns Hipatia
Hipatia, sei que a idade pode ser um factor perturbador para uma mulher, mas tem ânimo, pensa que daqui para a frente só podes ficar mais velha, cada dia um degrau mais por aí fora, pelo que hoje é o dia de entre todos daqui em diante em que te sentirás mais nova que nunca!
Sou amiga, eu sei:)
Beijo grande e um quadro lindo para ti.
EscadaVieira da Silva
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De noite despem-se os hábitos
A
noite resguarda-se no seu lugar escuro, adormece nos seus alvos lençóis depois de ver um thriller daqueles em que os assassinos escolhem a vítima pelo lado da cama em que dormem e segura do nosso à-vontade convida-nos à desocultação dos nossos quotidianos hábitos.
Mas eu não tenho hábitos estranhos,
Noite! Todos me são familiares! Além disso se cometer a imprudência de os desvendar não ficará a personagem virtual que eu represento (procuração notarial e tudo) colada a uma imagem desfocada? É que levo isto demasiado a sério, Noitinha! :)
E se o hábito faz o monge e se de noite todos os gatos são pardos, nela não se vê quem tem hábito e quem não tem (vê
O Crime do Padre Amaro).
:)
O filme a meio
o filme a meio uma janela aberta um corpo moreno nada a declarar os nossos olhos as mãos que se agarram cúmplices como se tivessem caminhado juntas há séculos cruzam-se de novo seguras inquietas enquanto olhando as estrelas pelo céu do carro nos deixamos morrer
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Maçã pensativa
Tacteando
Uma folha branca, um teclado que me faz cansar a vista, uma caneta, os meus dedos sobre as teclas,
as pontas dos meus dedos
contornando
a tua boca
mãos beijo corpo mapaEtiquetas: "qualquer coisa em forma de assim" a o'neill
Um dia
supus que o amanhã tinha asas
e que a hora certa de tudo chegaria
Inteiramente
Nada tenho que te diga e amanheça. E no entanto cá dentro gritam aves.
Um dia qualquer
Graham Greeene
Ando a ler Graham Greene em
O fim da aventura. Notável autor que descobri e que me está a dar imenso prazer ler. A dita
aventura é-o no sentido mais puro e existencial do termo - desencontro com a vida, o amor e o Deus a quem pedir contas.
Etiquetas: ler
Desencontros únicos
As coisas têm de sair, dê por onde der. Chore, deixe sair essa mágoa e siga em frente.Seguir em frente? Sorri com ironia para a voz que se encaminhava para aquele homem.
Há desencontros, sabia? Você não é o primeiro a quem isso acontece, sussurrava-lhe a voz. Mas com aquela idade, que mágoa poderia ter asas para sair, por que porta poderia a esperança entrar? Raios partam essa voz profissional e fria, desmemoriada de vida, que ainda bem que só eu oiço, pobre homem.
Amei-a muito mas fui obrigado a separar-me. Não quis saber que real obrigação lhe tinha imposto o afastamento mas acreditei que devia ter sido inapelável.
Amei-a e continuo a amá-la, falava ele sem nada lhe ter perguntado, nem sei como a palavra amor veio a propósito naquela conversa primeiramente banal.
Casei depois com outra pessoa, muito boa senhora e minha actual mulher mas nunca esqueci a minha primeira mulher e ainda gosto dela. Falamos ao telefone quando é o Natal ou os anos, sabe? Ela tem a vida dela e eu a minha mas nunca a vou esquecer. É uma mágoa que me está aqui atravessada.Esta é uma história que interpretei. O homem de 80 anos, olhar húmido e brio no porte cansado e direito, existe e existe a história tal como me foi contada por ele no meio de uma conversa casual sobre o tempo.
Acredito que se àquele homem fosse dado o poder de voltar atrás no tempo, possivelmente nada iria conseguir nem quereria mudar no curso da vida tal qual ela é e foi. Os desencontros no amor são uma praga que alguns reconhecem, outros atribuem ao destino e outros, como eu, simplesmente não compreendem a - será maldade? - a maldade que constrange e afasta.
Para aquele homem que vive metade da vida no ontem, o que mais o move são ainda as lembranças e as imagens de um tempo passado há muito, de um tempo em que o presente abriu estradas e a paisagem se alterou sem remédio.
Talvez noutra vida a encontre.
De seguida colocou o chapéu e apertou-me vigorosamente a mão.
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Erin Martin Lowell Herrero
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fora do mundo
e fora daqui. fora da escrita tanta de que preciso, o meu ar de alma. mas nada, estão nuas as páginas dos meus cadernos desirmanados
e quem me disse que eu podia tomar um descafeinado a estas horas? certo, lembrei-me da roupa que jaz por passar numa cadeira do escritório, já nem a posso ver, à roupa e ao quarto, lembra-me esta vida de que me apetece escapar por uns instantes, umas semanas doces, párem o mundo, quero sair, quem disse? deixem-me apanhá-lo daqui a uns meses no mesmo sítio, se o mundo é uma esfera e a vida um carroussel haverá sempre um ponto de onde poderei prosseguir viagem, numa próxima volta. não sei por que lado incerto saio desta teia onde o cansaço me instalou, por isso calo-me e respiro apenas, quieta e vazia pareço, por isso falo, esperando que este falar na escrita me redima um pouco de mim própria, das minhas culpas e das culpas de deus, se ele existe - e eu quero crer que sim
mas esta é outra engrenagem. se apanho este comboio tenho de seguir nele, não gosto das coisas a meio e quantas vezes
pensei em fechar não para balanço, mas para sempre. até que vi que o sempre e o nunca são palavras que se levam a si muito a sério e não pertencem a este lugar de palavras distraídas aqui postas em dias ensolarados ou enrodilhados pelo vento
voltando à não-seriedade disto tudo - pensei nos vossos rostos feitos de palavras, rostos que desconheço sem elas e dou-me conta que sair agora seria perder este contacto privilegiado, esta teia de relações virtuais que só fazem sentido nesta comunidade tão particular e decido que quero ficar mais um pouco e não deslaçar já os fios
e devagarinho volto,
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