fora do mundo
e fora daqui. fora da escrita tanta de que preciso, o meu ar de alma. mas nada, estão nuas as páginas dos meus cadernos desirmanados
e quem me disse que eu podia tomar um descafeinado a estas horas? certo, lembrei-me da roupa que jaz por passar numa cadeira do escritório, já nem a posso ver, à roupa e ao quarto, lembra-me esta vida de que me apetece escapar por uns instantes, umas semanas doces, párem o mundo, quero sair, quem disse? deixem-me apanhá-lo daqui a uns meses no mesmo sítio, se o mundo é uma esfera e a vida um carroussel haverá sempre um ponto de onde poderei prosseguir viagem, numa próxima volta. não sei por que lado incerto saio desta teia onde o cansaço me instalou, por isso calo-me e respiro apenas, quieta e vazia pareço, por isso falo, esperando que este falar na escrita me redima um pouco de mim própria, das minhas culpas e das culpas de deus, se ele existe - e eu quero crer que sim
mas esta é outra engrenagem. se apanho este comboio tenho de seguir nele, não gosto das coisas a meio e quantas vezes
pensei em fechar não para balanço, mas para sempre. até que vi que o sempre e o nunca são palavras que se levam a si muito a sério e não pertencem a este lugar de palavras distraídas aqui postas em dias ensolarados ou enrodilhados pelo vento
voltando à não-seriedade disto tudo - pensei nos vossos rostos feitos de palavras, rostos que desconheço sem elas e dou-me conta que sair agora seria perder este contacto privilegiado, esta teia de relações virtuais que só fazem sentido nesta comunidade tão particular e decido que quero ficar mais um pouco e não deslaçar já os fios
e devagarinho volto,
Etiquetas: "qualquer coisa em forma de assim" a o'neill