La marée haute
Desafio aceite, Hipatia
A
Hipatia lançou o seguinte
desafio há semanas:
para onde foge a vossa voz?A minha fica presa por dentro, um grito mudo que ninguém ouve a não ser eu. Talvez pelos meus olhos se suspeite, os olhos que vigio como janelas para não revelarem a voz presa dentro do corpo. A minha voz foge para aqui, onde as teclas simulam a algazarra de vozes distantes da multidão na enorme sala. A minha voz quando foge muitas vezes deixa-se serenar e desabrocha. E quando não consegue respirar e desaparece na escuridão é a ti que encontro à minha espera no degrau com um sorriso e um cigarro distraído na boca
diz-me que mais ninguém ama como nós
e é no teu colo que regresso a casa
Com atraso mas seguiu, Hipatia :)
Etiquetas: desafios
Subversiva
A poesia
quando chega
não respeita nada.
Nem pai nem mãe.
Quando ela chega
de qualquer de seus abismos
desconhece o Estado e a Sociedade Civil
infringe o Código de Águas
relincha
como puta
nova
em frente ao Palácio da Alvorada.
E só depois
reconsidera: beija
nos olhos os que ganham mal
embala no colo
os que têm sede de felicidade
e de justiça
E promete incendiar o país Ferreira Gullar
Window view

Herbert List
ITALY. Rome. Trastevere. Window view. 1953.
Etiquetas: galeria
Amos Oz
As pessoas fortes podem fazer quase tudo o que querem, mas nem sequer os mais fortes podem escolher o que querem fazer.Amos Oz,
O meu MichaelUma história de amor na Jerusalém dos anos 60.
Etiquetas: ler
aquiVou ver o mar. Não demoro. Esperem dois dias, pf.
Mario Quintana
Alma erradaHá coisas que a minha alma, já mortificada não admite:
assistir novelas de TV
ouvir música Pop
um filme apenas de corridas de automóvel
uma corrida de automóvel num filme
um livro de páginas ligadas
porque, sendo bom, a gente abre sofregamente a dedo:
espátulas não há... e quem é que hoje faz questão de virgindades...
E quando minha alma estraçalhada a todo instante pelos telefones
fugir desesperada
me deixará aqui,
ouvindo o que todos ouvem, bebendo o que todos bebem,
comendo o que todos comem.
A estes, a falta de alma não incomoda. (Desconfio até
que minha pobre alma fora destinada ao habitante de outro mundo).
E ligarei o rádio a todo o volume,
gritarei como um possesso nas partidas de futebol,
seguirei, irresistivelmente, o desfilar das grandes paradas do Exército.
E apenas sentirei, uma vez que outra,
a vaga nostalgia de não sei que mundo perdido... MÁRIO QUINTANA
que faria em Julho de dois mil e seis cem anos se vivo fosse
Etiquetas: e as palavras e os poemas
Bedtime
(tarefa das revistas concluída)
Foram quatros os sacos de vários kilos cada, tantos (os kilos) quantos cada saco pôde suportar sem se rasgar, resultado da
desrevistização a que decidi sujeitar a casa.
E a tarde de ontem quase inteira se esgotou na selecção dos artigos das revistas que tinham sido sujeitas a um primeiro escrutínio quando as guardei. Desarrumar e deitar fora, ficar com o essencial.
E, pesando, pesa de forma tão grata e leve o essencial...
(vague em tarefas domésticas)
Reservar um (quem diz um) dia de férias para...
dar um destino útil à pilha de revistas desalinhadas na estante do chão, vulgo deitá-las fora
esboçar um arquivo de fotografias
olhar criteriosamente para o interior do roupeiro e só
depois pensar em ver saldos...
Bedtime
Agora que já regressei
Não me julga capaz a alegria de a suportar
sabe que não a aguento placidamente muito tempoe que até a felicidade pode ter o tédio de um domingo à tardeoutras vezes ignora-me e força a entrada
ilude a tristeza tão longamente conseguida...
,