La marée haute
Conta-me um segredo
Os segredos são segredos são ...
Através do
Cap, descobri este local secreto, feito de intimidades anónimas.
Vejam. Para alguns será espreitar pelo buraco da fechadura, para outros será olhar ao espelho. Catártico? Não tenho dúvida que sim.
Música chez moi
(desafio da
Maria Árvore)
"
porque recusá-lo seria como quebrar uma roda de mãos dadas" - acho que foi por esta frase musical que me apetece responder a este 'inquérito', e não por sentir que quebraria a roda. Aliás, não o vou passar a ninguém porque a roda das mãos que se querem unir continua a girar.
Tamanho total dos arquivos no meu computador?O% +/- ;)
Último disco que comprei:
Acho que foi o de Anthony and The Johnsons.
Canção que estou a escutar agora:
Nenhuma.
5 canções que ouço frequentemente ou que têm algum significado para mim:
Difícil responder. Ultimamente tenho ouvido mais Lhasa de Sela, Anthony and the Johnsons, as bandas sonoras de
Blanc,
Rouge, B
leu, de Preisner, Gotan Project e mais uns quantos cd's que ciclicamente arejo.
E o que recordo: o 1º single (vinil) dos Xutos,
Sémen, Os AC/DC em certas canções, os Whitesnake, e gosto de tanta música, de hoje e de ontem que ciclicamente oiço, ao sabor do momento. Paco de Lucia, Chavela Vargas, Eliseth Cardoso em
Barracão (esta música arrepiou-me da 1ª vez que a ouvi, a interpretação é portentosa, a composição sublime)
E pronto! O próximo inquérito só acontecerá na presença do meu advogado!
A primeira noite chez moi
O dia dava lugar a outro. Entrei no prédio, chamei o elevador. Pensei no novo ciclo e antevi a paz, a liberdade. Estava feliz, ia ter finalmente o merecido repouso.
Não havia televisão nem rádio a dissimular solidões inexistentes. Era a noite e era eu numa nova etapa comigo mesma, pela primeira vez a viver só comigo.
Em semi-vigília, senti que aquelas paredes não eram a
minha casa. Pois uma casa faz-se e os amigos cultivam-se (de preferência com sal e açucar e um pouco de vinagre para testar a amizade) no tempo e à temperatura certos. E nestes anos fi-la minha, o meu espaço, a minha casa, local de encontro de Amigos e albergue que urgentemente procuro quando me chamam os meus silêncios.
Iátá!
Hipatia, a primeira noite :)
É mais fácil arranjar nomes para filhos que títulos para posts
De repente Lóri não suportou mais e telefonou para Ulisses:
- Que é que eu faço, é de noite e eu estou viva. Estar viva está me matando aos poucos, e eu estou toda alerta no escuro.
Houve uma pausa, ela chegou a pensar que Ulisses não ouvira. Então ele disse com voz calma e apaziguante:
- Aguente.(
A Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres - Clarice Lispector)
***
Entrelendo dois livros de géneros completamente diferentes, cujo denominador comum é o facto de serem escritos por autores brasileiros, apago o tempo detendo-me em certas, certeiras frases de Lispector, cheias de pistas sugestões referências e uma força enorme feita de fraqueza, agonia e raios de sol imensos a entrar pela vida dentro.
***
De João Ubaldo Ribeiro leio,
A casa dos Budas Ditosos, que é um romance estranho, provocador, não sei se gosto, a pornografia não me seduz por aí além, prefiro os requintes crus do erotismo. O livro tem o fio condutor mínimo e suficiente para dar a base, o pano de fundo às palavras do autor, que na primeira pessoa do feminino, explora fantasias sexuais, quebra tabus, tudo em nome do sexo. Não sei se é bom ou mau, mas é uma perspectiva mais. Há tabus - porque não dizê-lo? - que não devem ser quebrados. O do incesto por exemplo. É importante e apelativo diversificar as leituras, os autores, os géneros, abrir o espírito e deixar que ele seleccione naturalmente e se engane, se confirme, se descubra a si mesmo.
O livro é divertido
dentro do género (adoro esta expressão, que se encaixa em qualquer opinião e que não diz rigorosamente nada) naquela linguagem
solta para
adultos e,
para terminar a noite, por entre o cansaço do feliz fim de semana,
só me falta espreitar a tv 7 dias ou lá como se chama a revista que traz a programação televisiva juntamente com as notícias das celebridades (na verdade compro-a por causa das toilettes dos vips, que eu televisão vejo pouco).
Um livro de capa preta
É curioso pegar no livro do
João Pedro da Costa, folhear as páginas, ler alguns 'posts' ali já transformados em textos em papel e imaginar as vezes em que os lia no computador, lembrar-me das brincadeiras e dos inúmeros comentários, dos risos, do espaço de tolerância e ponto de encontro, das pontes que se cruzaram e dos horizontes que se abriram, de músicas, de pessoas, e do rádio Tivoli (um dia hei-de comprar aquele rádio).
É familiarmente estranho. E é ao mesmo inevitável que o
Ruínas Circulares se magicasse em livro, neste livro de capa preta que está aqui ao meu lado, que não é o meu, pelo que
...siga uma encomenda, sff;)
Justamente merecido que o blog desaguasse em livro.
I am a bird now

É oficial! Tenho bilhetes para Anthony and the Johnsons, yes! Consegui bilhetes rés vés campo de ourique, ia em viagem, compro o jornal, o quê, dia 31?? Ligar Fnac, não fazem reservas com tão pouco tempo, ligar amiga, sorte, dia 31 lá estou :)))
Etiquetas: músicas que me inspiram
Tempos
Há algum tempo atrás alguém me disse:
Podes contar comigo para tudo. Eu estou aqui.(O tempo muda tudo.)
;)
Agora ando na fase 'a blogosfera sou eu' e a poucos ou nenhuns blogs tenho ido.
Isto acontece-me sempre que viro a casa do avesso e mudo os móveis de sítio - depois apetece-me ficar aqui a descansar neste cadeira de blog, recebendo quem quiser vir e escrevendo ao sabor do desejo egoísta, do qual sou ama e senhora.

Tenho-o desde a adolescência, em single de vinil e a propósito de nada, a despropósito de tudo, apetece-me dizer que esta é uma das minhas músicas da vida. E nem quero conhecer outra dos AC/DC. Esta basta-me para a vida inteira. Foi amor para uma música só.
Bom feriado ou deverei dizer bom fim de semana?
Inscrevam-se na caixa de comentários para irmos a votos :)
Etiquetas: músicas que me inspiram
Das emoções sonolentas e atentas
Não precisaria que Clarice Lispector escrevesse esta frase dita por Ulisses a Lóri, para que tivesse dado entrada há muito no meu entendimento-intuição-dedução:
Nos piores momentos, lembre-se: quem é capaz de sofrer intensamente, também pode ser capaz de intensa alegria.
Não faço a apologia do sofrimento nem o quero contrapor à indizível alegria; não espero, não desejo que sejam duas faces fatais da mesma moeda ou que se sucedam alternadamente. E além do mais,
sofrer intensamente custa muito.
O que para mim é sofrimento, para outra pessoa poderá ser encarado como algo tão simples como beber água. A mesma água que bebo tranquila quando algo que poderia desabar sobre mim me endurece e adoça, e me espanta por me mostrar as forças até então desconhecidas.
Gostava que as alegrias fossem esfusiantes e o sofrimento moderado mas nem sempre (nunca?) é assim e não creio que as pessoas de paixões e sentimentos fortes, mesmo aparentemente cheias de bonomia consigam facilmente atravessar a terra de ninguém do indolor e incolor. E prevenir a dor não arriscando a entrega priva-nos da imensa alegria de viver.
O preço a pagar pela entrega passional pode ser a frustração quando sobrevém o desencanto. Porque não há contos de fadas. Porque se controem castelos no ar. Porque as nossas expecativas são legitima ou ilegitamente altas, porque a felicidade se constrói com escolhas, com rupturas, com certezas e algumas dúvidas. Porque (quase) nada nos é dado para sempre e há coisas que nos são dadas poucas vezes na vida.
E é batota dizer que o sofrimento não existe, que passa, que o mundo é vasto demais e há tanto a descobrir! Aquele sofrimento que não sofre por medo de sofrer (eu disse isto, sim) é o que se auto-anula e não se dá a si próprio o espaço de ser, inebriando-se em festas de solidões (des)acompanhadas. E sem
ser, uma contrariedade num qualquer dia inesperado vai despoletar aquele medo mais antigo e raspar a ferida, sangrá-la. Sofre-se mais às prestações.
Hoje o meu coração é duplamente vermelho
Hearts Jim Dine
Adenda feita em 25 de Maio: quando daqui a 5 anos estiver a escrever no blog e me esquecer que acontecimento comemorou este post, diz-se à malta vindoura (incluindo eu, por supuesto), que se trata da
VITÓRIA DO BENFICA NO CAMPEONATO NACIONAL EM 2005.
(Ah, pois!)
O que avidamente leio e me apetece pousar...
Parecia-lhe que já fora tão experimentada que agora lhe deveria chegar dentro da lógica romântica dos humanos, a hora de reconhecer a paz.
(...)
E ele ainda achava pouco. Como explicar que, do longe de onde de dentro de si ela vinha, já era uma vitória estar semivivendo.
(...)
- Não tenha medo, disse ele sorrindo, não tenha medo de meu silêncio...Sou um louco mas guiado dentro de mim por uma espécie de grande sábio...Uma Aprendizagem ou O Livro dos PrazeresClarice Lispector

(Tom Everhart)
Cansada.
Porta del Tempo Walter Valentini
Se tivesse as chaves da casa do tempo, entraria lá enquanto o sol se espreguiçasse e faria parar o relógio, suspendendo o mundo por umas horas; voltaria à hora crepuscular e estenderia o tempo numa bancada de pedra, e esticá-lo-ia de novo com o rolo com que se fazem os pastéis de massa tenra.
Depois, deitaria fora a chave, pois a programação estava feita e todos os dias se repetiria, àquelas horas certas, a suspensão do tempo.
E com isto me atrasei, porque, com chave ou sem chave, o tempo parou, mas o mundo não e agora ala que se faz tarde. Vou sair com olheiras mal disfarçadas porque se me acabou o corrector das ditas e 3 borbulhas mal resolvidas que decidiram atazanar-me o juízo. Valha-me um risco nos olhos, um batom que retire as atenções dos pontos negligenciados e um sorriso que, peço, esteja sobretudo no olhar.
Aprendizagem. A leitura.
O que acontecia na verdade com Lóri é que, por alguma decisão tão profunda que os motivos lhe escapavam - ela havia por medo cortado a dor. Só com Ulisses viera aprender que não se podia cortar a dor - senão se sofreria o tempo todo. E ela havia cortado sem sequer ter outra coisa que em si substituísse a visão das coisas através da dor de existir, como antes. Sem a dor, ficara sem nada, perdida no seu próprio mundo e no alheio sem forma de contacto.Uma Aprendizagem ou o Livro dos PrazeresClarice Lispector
O apelativo na escrita de C. Lispector não é o entendimento; Pois ela é obscura, densa, apaixonada, luminosa, pura, criança, velha de ser.
Lê-se Lispector com a intuição, com a alma. Não sei nem me importa se tudo
entendo. Quero apenas o prazer de sentir o embate frio e húmido das palavras na pedra em que por vezes se me transmuta o coração.
Este blog sorri em tons de rosa.
A Maria faz hoje 6 deliciosos meses.
Alegria demorada*
Este poema tem um dia adormecido entre os braços.
Este dia torna-se poente a oeste do peito.
Este poente sente uma rua passar por suas veias.
Esta rua sobe ao céu em frente de uma casa.
Esta casa abre as asas quando chamo.
Estas asas amparam o sono de amêndoa de Jacqueline.
Jacqueline é o retrato de uma menina de onze anos.
Esta menina aproxima-me dez horizontes com os dedos.
Estes horizontes têm uma lua sentada nos joelhos.
Esta lua nasceu numa janela minha, que já não canta.
Esta janela recupera seu céu e eu regresso pelos olhos.
Estes olhos viram uma rapariga que sorri.
Esta rapariga reclina a voz num pássaro que passa.
Esta voz é o eco dos passos do entardecer.
Este eco descansa meus caminhos e enxuga minhas estrelas.
Estas estrelas, que são filhas de tua noite e minha fronte.
Esta fronte, onde um rei de fogo governa um país de neve.*
Francisco Luis Bernárdez
Argentina,
(1900-1978)
Boa noite :) sonhos seremos e alegria demorada, a que se demora a ficar enredada em quatro braços de abraço.
"Elles pénètrent le coeur du sable"
La vague Kupka
Fui à
Tabacaria, e, com a devida vénia à Elvira, copiei a imagem e este excerto do poema
L'assaut des vagues, que acho belíssimo e porque é importante conhecer e divulgar poetas menos conhecidos no mundo ocidental, para que se veja e sinta quão perto navegam os sentimentos dos homens, por mais que geográfica e culturalmente estejam afastados. Talvez só o coração nos aproxime e enquanto houver coração em chama teremos uma porta aberta para o entendimento e a solidariedade global. No último post falei de Ali Farka Touré, um dos músicos africanos mais conhecidos a nível mundial, agora trago a poesia do africano Kiné Karama Fall.
Elles pénètrent le coeur du sable
Qui attendait comme une esclave son maître
Et s'en retournent en leur propre coeur
En leur propre corps, à la source des vagues
Elles s'en retournent en murmurant tout bas
Je laisse mon sourire courir sur elles
Et donne libre cours à mes yeux
Fascinés par leurs jaillissements
Kiné Karama Fall
Poètes d'Afrique et des AntillesAnthologie de Hamidou Dia
Ed. La Table Ronde/ La Petite Vermillon
Obrigada,
Elvira:)*
Vou arranjar um blog novo para passar incógnita.
Aceitam-se sugestões de nomes.
Blown Away
Steigman
Fim de semana cinéfilo
Shine,
Pulp Fiction,
Goodbye Leninea loucura, o medo, a paixão de um homem
a violência, a solidariedade, os jogos de poder
o amor
Lugares
Um
lugar como este é feito também de silêncios, de vazios, de páginas em branco.
Não me apetece comentar nem pensar muito, apetece-me entrar num estado de alienação privilegiado feito de livros, de músicas e sms's de amigos a dizer 'gosto de ti', aos quais responderia com um lacónico :).
Essas ilhas de ausência têm um potencial perigo; ou nos reparam interiormente ou nos afastam dos outros, criando um mundo irreal, ilhas de solidão onde é penoso caminhar demasiado tempo, o tédio espreita e o círculo vicioso inicia-se.
Mas há a beleza das coisas e das pessoas que nos esperam, a quem dizemos, sem voz,
(...) não me importo de adoecer no teu colo
De dormir ao relento entre as tuas mãos.(Daniel Faria)