Negligência médica? negligência humana?
Eu vi a Rute uma vez ou duas. Era uma miúda feliz e alegre, com muita pedalada para viver. E era ela que dizia uma frase estranha, lida à distância e passados 7 anos da sua ida para algum lado. "Só se vive uma vez e se a vida for bem vivida uma vez basta".
Irónico, não?
Pois bem, um dia decidiu que queria sentir-se melhor com o seu corpo e, depois das consultas habituais e marcada a lipoaspiração, dirige-se nesse dia à clínica, sozinha, estaciona o carro e entra.
Assisti a uma das sessões do julgamento em primeira instância. Entre os amigos da Rute circulava o que tinham ouvido nos corredores do hospital, em surdina: que tinha havido um erro na administração da anestesia e que depois de constatado o erro, não se procedeu em consequência com a urgência e diligência que o caso impunha.
O médico, José Mendia, vinha cá fora de vez em quando, entenda-se, aos corredores do Palácio da Justiça, enquanto lá dentro as testemunhas eram ouvidas.
E se seria justo pensar que ele estaria contido e pensativo, desenganemo-nos: cá fora falava e ria como se estivesse a ser julgado pelo furto de um pacote de arroz. Independentemente da culpa que pudesse ou não ter, impunha-se respeito pela memória da miúda e pela família. Parecia que estava num café e foi isso que mais me chocou: essa falta de sensibilidade humana; com ele estava uma assistente que falava com ele e ria, atendia o telemóvel e ria, ambos muito leves e bem dispostos,
como se fossem superiores a tudo aquilo, imunes e alheios, centrados na sua vidinha fútil de revistas de jet set. Que se continue a fazer justiça, agora no Supremo Tribunal, para onde, ao que consta, o médico vai recorrer.
Rapariga de 21 anos morre após anestesiaMédico do jet set (José Mendia) condenado por morteEtiquetas: Negligência médica