Rute
Homens que são como lugares mal situados
Homens que são como casas saqueadas
Que são como sítios fora dos mapas
Como pedras fora do chão
Como crianças órfãs
Homens sem fuso horário
Homens agitados sem bússola onde repousem
Homens que são como fronteiras invadidas
Que são como caminhos barricados
Homens que querem passar pelos atalhos sufocados
Homens sulfatados por todos os destinos
Desempregados das suas vidas
Homens que são como a negação das estratégias
Que são como os esconderijos dos contrabandistas
Homens encarcerados abrindo-se com facas
Homens que são como danos irreparáveis
Homens que são sobreviventes vivos
Homens que são como sítios desviados
Do lugar
Daniel Faria
Era,
É, um poeta intenso e profundo, que se cumpriu em 28 anos de eternidade. Comove-me sempre que o leio, como se nele houvesse a premonição do absoluto e indizível futuro. Comove-me a forma suave densa e firme como toca nas palavras e as alimenta e lhes dá ar e água.
Disse a Rute a uma amiga pouco antes de morrer, premonitória e segura da alegria com que sugava a vida e olhava o futuro, não imaginando que a morte já rondava os seus 20 anos.
"Só se vive uma vez e se a vida for bem vivida uma vez basta."Há pessoas que são mesmo
lugares mal situados sítios fora dos mapas.Dedicado à Rute que olha o mundo do cimo das estrelas, dançando encantada. Os anjos dançam nas estrelas, sabiam?
Etiquetas: e as palavras e os poemas, Negligência médica