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La marée haute
segunda-feira, outubro 04, 2004
  Anonimato

Está aqui um excelente texto de Paulo Querido, de que transcrevo uma parte, a parte que me interessa realçar, a propósito da criação de réplicas de blogs, a propósito de comentários anónimos cuja autoria se quer confundir com o original o que dá origem a confusões sobre quem é quem. Esses falsos blogs não apenas pretendem provocar o visado autor original - mais grave é enganar e desrespeitar quem lê e comenta de boa fé, supondo que está a dirigir-se a outra pessoa. Claro que para alguns a boa fé não significa nada e o que interessa mesmo é manipular a sinceridade alheia, instrumentalizar essa mesma boa fé das pessoas que se dirigem a A pensando que se estão a dirigir a B e etc - e, depois, ficar a rir ao alto do seu sarcasmo desiluminado.


Desde que descobri e frequento este mundo da net, mais me convenço que é em todo igual ao de lá de fora. A cobardia e a coragem expressas lá fora têm a mesma expressão e referenciam-nos, quer sejamos um nome ou um nick. Tal qual.


(...)
Agora outra coisa. Na blogosfera o anonimato é vulgarmente uma defesa do autor, que deseja publicar sem que isso signifique expôr a sua privacidade. [Nem todos nós procuramos os cinco minutos de fama.] O tom intimista dos blogues ajuda a essa escolha. Muitos, uma vez conhecidos os cantos à casa, acabam por assumir a identidade nos seus blogues. Outros, uma minoria, não.

O anonimato não significa cobardia -- embora alguns cobardes anónimos o usem para tentar insultar e denegrir terceiros.

O anonimato não significa irresponsabilidade ou inimputabilidade -- apesar de alguns cobardes anónimos o usarem irresponsavelmente.

O anonimato merece respeito -- sim, apesar de com isso termos de levar com as diatribes de alguns cobardes anónimos. Pensem nos outros, nos milhares de casos em que só em condições de anonimato puderam ser denunciados escândalos e tiranias e mortandades.

A credibilidade não tem uma relação directa com o anonimato ou a assinatura. A credibilidade é outra coisa. Um jornalista é um profissional treinado para reconhecer sinais de credibilidade numa informação prestada seja por quem for. Mesmo (sobretudo?) por um dirigente governamental. Com o tempo muitos bloggers e consumidores de informação na web adquirem esse treino em quantidades diferentes. Com o tempo aprendemos a separar as fontes mais credíveis das menos credíveis numa escala de valores que tem muito de pessoal, claro, mas também muito de consensual, partilhável pela comunidade.

Como a reputação, a credibilidade constrói-se. Na web como no resto. Há figuras públicas sem credibilidade, ou de baixa credibilidade. E há figuras anónimas (não públicas) de credibilidade comprovada. Por vezes ao longo de anos. Há milhares de bloggers credíveis e respeitados apesar de ninguém os conhecer em carne e osso ou de nome. Aqui Furtado observa bem: «a experiência [dos jornalistas] é ainda escassa para encontrar, ou até para procurar, novos códigos». Que lhes permitam reconhecer as fontes mais e menos credíveis da blogosfera. [Observação: o ónus da inexperiência deve recair sobre o jornalista e não sobre as eventuais fontes. Não foi o caso.]

A credibilidade constrói-se através da repetição, no tempo, de informações sérias e relevantes e de opiniões certeiras. Não se constrói com um feliz mas episódico tiro na mouche. E muito menos fornecendo regularmente informação falsa, deturpada ou enquinada (como é vezeiro na política e na economia, prosseguindo estratégias privadas).

A acabar: um nick, ou pseudónimo, tem o mesmo valor de um nome. É uma assinatura. Identifica aquela pessoa. Na Internet como na vida (quantos "jet-sets" são conhecidos pelos seus diminuitivos familiares? Quem sabe o verdadeira nome de Babá Pita?). José Pacheco Pereira é quase mais reconhecido na Internet (e pelos internautas nas conversas informais em ocasiões sociais) pelas iniciais JPP e até por Abrupto do que pelo seu nome -- esteja ou não ele ciente disso, esteja ou não ele disposto a conceder à assinatura JPP foros de nick oficial.

Quem acha que se refugia atrás de um nick, esqueça. Mais tarde ou mais cedo confronta-se com a reputação desse mesmo nick.

No início da vivência online dizia-se a propósito do anonimato que supostamente caracterizaria estas paragens: na Internet ninguém sabe que tu és um cão. Pouco tempo foi necessário para se perceber que, pelo contrário, os nossos passos digitais deixam rastos e marcas a vários níveis, o principal dos quais a esfera comum de diálogo, a comunidade. A frase pode então ser reformulada mantendo o seu humor inicial: na Internet todos sabem que tu és um cão.

Podem não te reconhecer na rua, mas aqui sabem quem tu és. Cão ou não.


(P.Q.)

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