O primeiro dia de Outono
Hoje é um daqueles dias em que tenho tanto cá dentro, tantas emoções à solta, tantos pensamentos a cruzarem-se a mil à hora, tanta tanta tanta coisa que ou fico a noite inteira a escrever e, chegada a manhã, vejo toda a densidade dos dias escoada nas palavras, ou suspendo o fio das emoções e da razão e fico contida, guardando toda a riqueza do que sinto, vejo e absorvo que por ser intenso amplo, nenhuma palavra poderá alcançar. Se pintasse, se tocasse piano ou se praticasse páraquedismo, três paixões que hei-de concretizar quem sabe, exprimiria nesse limite do ser que são as paixões, tudo o que fica por dizer, tudo o que não precisa ser dito.
Para não dizer o que não digo, leio este poeta premonitório de si mesmo e dos demais, é assim que o vejo, é assim que me toca esta sua forma de ser que
já foi.
As estações, por exemplo - não sou o único que o digo -,
Não rodam à maneira dos carrosséis no largo. No Outono
A magnólia é pensativa como o homem
Que te olha por detrás da janela onde te escrevo.
No Inverno os vidros vão embaciando - aproxima
A tua mão da paisagem que resta
Como se fora o lado do verbo que encarnou. Repara
No banco de pedra - ele está
Sobre ti.
Tu és a criança sentada
Que olha para o céu. Há um tesouro
No céu - um coração novo. Reconheces
A magnólia estelar? O interstício solar
Da pupila celeste? Ela está sobre ti
E contempla - é verdade que é pelas lágrimas
Que começam as visões.(Daniel Faria)
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