Orwell
Uma das questões que me incomoda no facebook e nem sei porque razão lá ando, é a questão da privacidade. No outro dia disse-me um amigo, certeiramente, que era uma falsa questão. Se a falta de privacidade me incomoda eu que não esteja no facebok. Simples, muito simples.
Só que o facebook traz consigo um pouco da água que mata a sede de partilhar. Ou da ilusão da água. E é apelativo, é atractivo, é um mundo. É O mundo. Será? Será que as redes sociais como o facebook são a decorrência mediata e incontornável da globalização, da célebre aldeia global de que há décadas ouvimos falar? E se for, só existe quem está no facebook?
Não. Não defendo isso e creio que o facebok talvez seja apenas uma moda mais. Num par de anos tanta coisa muda nestas novas tecnologias. A questão quase paradoxal da privacidade ou da falta dela no facebook há-de fazer mossas.
Certo é que eu e os meus pudores não nos damos bem com o entrar pela casa do outro, não me interessa, mesmo quando sou levada link atrás de link de amigo e "amigo" e me deparo com fotos demasiado pessoais. Aí algo em mim se detém, dá meia volta e parte apressada. Creio que até muita gente que se expõe nem se dá conta do quão acessível está. Outros sim, sabem-no e não se importam. Cada um sabe de si.
Penso que profissionalmente o
face pode ser de uma mais valia extraordinária em certas actividades e a quantidade de "amigos" traz mediatismo e ganhos justos. Como eu apenas funciono ali no campo puramente pessoal e lúdico, a assimetria da amizade (dum lado ou doutro) cria-me reservas. Sei lá, não quero ser "amiga" do vizinho do lado nem saber o que ele andou a fazer nas férias. Não quero que uma pessoa com quem tenho uma relação profissional conheça o meu lado lúdico, não quero, não me interessa, não me diz nada. Não quero ser amiga do café que frequento nem dos restaurantes onde vou. Eventualmente algum amigo que eu convidei pensará o mesmo de mim? É disto que é feita a assimetria. Mas isto é puramente pessoal, cada um (re)interpreta-se no facebook à sua maneira. E nada mas nada é linear. Tão pouco este post o é, embora resida nele a (vã) tentativa de o ser...
Se fizéssemos uma analogia com o cinema, eu diria que os blogs são filmes, o facebook é uma pequeníssima cena isolada e descontextualizada a que toda a gente tem acesso. Mas este lado democrático é enganador. Não acredito no facebook e nas pistas que deixamos. São concerteza os meus fantasmas orwelianos a acenarem-me com esta questão do controlo. Tudo tem um preço e cada um de nós, mais cedo ou mais tarde estará a gerir o delicado equilíbrio entre a exposição/partilha e a privacidade... que não tem preço.
(Post susceptível de entrar em obras)Etiquetas: Fbook