Quando morrer para onde vou?
As respostas de Mário Soares e D. Manuel Clemente no seminário "Hospital, Lugar de Esperança". À pergunta "quando morrer para onde vou?", o Bispo do Porto, Manuel Clemente, responde com simplicidade: "eu vou para onde estou". Já o antigo presidente da República, Mário Soares, opta por afirmar convictamente: "eu vou de certeza para a terra".
Este foi apenas um dos pontos que permitiu cruzar os olhares de um crente e de um agnóstico sobre questões da esperança e da fé, da vida e da morte, no seminário "Hospital, Lugar de Esperança", organizado pela coordenação nacional das capelanias, no Hospital de S. João, no Porto.
D. Manuel Clemente explicou, depois, a sua resposta: "Quando morrer vou para onde estou, de outra maneira, porque o céu está na terra e a terra está no céu".
Numa intervenção marcada pela sua perspectiva de crente, o Bispo do Porto sublinhou que "a pessoa que tem Jesus como referência absoluta, tem fé" e "a esperança é a activação da fé".
Mário Soares preferiu recorrer à língua francesa, que distingue "espoir", enquanto esperança na condição humana, e "esperance", quando se refere à ressurreição, para garantir: "Sou um homem de esperança. Sempre fui".
"Tenho esperança no progresso e na espécie humana e nesta coisa extraordinária que temos que é a capacidade de separar o bem do mal, de termos consciência. Não é preciso ser religioso para isso", sublinhou.
Apresentando-se como "o agnóstico de serviço", o antigo presidente da República sublinhou, ainda, a importância do apoio espiritual nos hospitais, dizendo que a medicina é, talvez, o sector onde tem havido mais progressos e "já quase venceu a dor, mas é preciso acabar, também, com a dor espiritual e com a angústia".
Aos 84 anos, confessa não pensar na morte. "A morte é um fenómeno tão natural como a vida, que temos de aceitar como aceitamos a vida", diz. E acrescenta: "não me aflige que para lá da vida seja o nada como não me aflige o que se passou quando eu estava, como dizia o meu pai, na ordem dos possíveis".
Confessando uma especial simpatia pelo Papa Paulo VI, este cidadão "laico, republicano e socialista" cita as três virtudes teologais "fé, esperança e caridade", para dizer que não tem fé, mas tem "esperança terrestre" e, como S. Paulo, prefere "o amor pelo próximo à caridade".
No entanto, sublinha, isto pode "ser completado com a trindade laica "da liberdade, igualdade e fraternidade".Margarida Cardoso,
Expresso, 01-04-2009Etiquetas: "qualquer coisa em forma de assim" a o'neill, imprensa, vidas