Sonho, Confiar
A dúvida atacava-a como uma mordedura nas canelas. Em quem poderia confiar? Em quem poderia descansar o peso do mundo que carregava aos ombros? Em todo o lado, pessoas ondulavam como pequenas formigas trabalhadoras, no metro, nos autocarros cheios, nos cafés-manjedoura. Ninguém olhava ninguém nos olhos. Esperava um milagre e não acreditava em milagres. O olhar tornava-se dia a dia mais baço e errático e como uma concha recolhia-se em si mesma a cada pequena e nova (?) desatenção. Talvez eu esteja a dormir, talvez isto seja apenas um pesadelo, tenho as mãos abertas e cheias de rosas e como é que ninguém as vê. Vou deitar-me um bocadinho, deve ser isso, um sonho, daqui a pouco quando acordar na minha cama de dossel, abrirei os olhos e à minha volta estarão espalhadas as rosas que agora sangram nas minhas mãos.
Etiquetas: "qualquer coisa em forma de assim" a o'neill