O espelho tripartido
No quarto da minha mãe havia um toucador com um espelho tripartido. Os espelhos da minha mãe consumiam-me tempo e vaidade, pois já então eu era, como continuo a ser, um pouco mais dada a vaidades que ela, o que não corresponde necessariamente a um melhor resultado final. Era no espelho de três faces que eu me inspeccionava os defeitos e a ele indagava das minhas imaginárias qualidades. De tanto o olhar às vezes partia-me e assim partida e perdida entrava dentro da alma dele: "Quem sou eu? Serei estes olhos, esta boca, este ar perdido?" Tinha 12 anos e era o meu primeiro espelho.
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