Ando a ler pouco
e isso incomoda-me. Livros não me faltam nem interesse para os ler. Ao dizer isto tenho noção de que estou a demarcar-me da acepção global e literal da leitura, remetendo-me ao sentido estrito dos livros Livros que enchem a alma ou que aprimoram a percepção dos outros e a capacidade para comunicar.
A internet rouba-me o tempo que eu lhe lhe consinto roubar-me, é certo. Mas há um mas. E eu penso como sou privilegiada por ter nascido numa época que me permitiu desenvolver o gosto pela leitura sem ter a concorrência de estímulos tão apelativos como este da realidade virtual porque consigo ver o melhor de dois mundos. A internet é incontornável: mudou radicalmente as formas de obter conhecimento e mudou os hábitos de leitura. Em quem os tinha, bem entendido. Se bem usada não contribui para o esvaziamento cultural, antes o pode incrementar. À distância de um clique ou de um toque entramos nos magníficos museus que reinventam a História da humanidade, obtemos conhecimento técnico, fazemos o mapa das viagens que queremos fazer, lemos os jornais do mundo inteiro e abrimos os horizontes até os olhos ficarem esbugalhados. Fica-me no entanto a sensação e a certeza de que há coisas que esta interactividade toda não me pode dar: o sossego de mergulhar num livro como se não houvesse amanhã e o conforto incomparável de me sentir parte de uma certa ideia de humanidade.
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