sexta-feira, junho 29, 2007
...e a intimidade da morte
Há uns meses esteve em Lisboa uma exposição fotográfica cujo âmbito era a fotografia de pessoas acabadas de morrer. Aparte o facto de todas as pessoas terem dado autorização para tal manifestação artística, de um ponto de vista estritamente pessoal e subjectivo não me agrada esta extrapolação, mais uma vez e na sequência do post anterior, do conceito de arte. Penso que esta exposição querida e/ou consentida pelos participantes, toca nos limites do ético e do respeito pelo significado da morte. Mas this is me e objectivamente dir-me-ão, como me disseram, que esta forma de exposição de um corpo sem vida que em vida consentiu ser fotografado para divulgação pública mal acabasse de morrer, é tão legítima como outra qualquer que dependa da vontade do sujeito e além disso a exposição só a vê quem quer. Mesmo assim. A morte insere-se na esfera de uma intimidade demasiada e atravessa os limites mais fundos do ser humano. Sei lá. Se pensasse em ir punha o coração ao alto e preparava-me para a visita daquela angústia existencial que de vez em quando mata saudades de mim.
publicado por vague às 29.6.07
Há uns meses esteve em Lisboa uma exposição fotográfica cujo âmbito era a fotografia de pessoas acabadas de morrer. Aparte o facto de todas as pessoas terem dado autorização para tal manifestação artística, de um ponto de vista estritamente pessoal e subjectivo não me agrada esta extrapolação, mais uma vez e na sequência do post anterior, do conceito de arte. Penso que esta exposição querida e/ou consentida pelos participantes, toca nos limites do ético e do respeito pelo significado da morte. Mas this is me e objectivamente dir-me-ão, como me disseram, que esta forma de exposição de um corpo sem vida que em vida consentiu ser fotografado para divulgação pública mal acabasse de morrer, é tão legítima como outra qualquer que dependa da vontade do sujeito e além disso a exposição só a vê quem quer. Mesmo assim. A morte insere-se na esfera de uma intimidade demasiada e atravessa os limites mais fundos do ser humano. Sei lá. Se pensasse em ir punha o coração ao alto e preparava-me para a visita daquela angústia existencial que de vez em quando mata saudades de mim.
publicado por vague às 29.6.07
Comments:
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'O medo de ser livre faz o orgulho de ser escravo'.
"Sei lá" quem é que disse isto; ao contrário daquela expressão 'sei lá' que usa no seu texto e que não nos diz de que é que sabe lá ou não sabe lá quem a escreve... adiante; mal comparado, o medo da morte -uma inexistência, como já sugeri- leva-a a uma diatribe cuja finalidade não se entende
-o cadáver é a pessoa? Não, claro
-reconhece no cadáver alguma pessoa? Improvável e acessório
-se reconhecesse -uma improbabilidade- ficaria perturbada? De que modo?
-e eu, perante o mesmo cadáver?
etc etc
Ah, mas não se trata sequer de cadáveres! São apenas imagens aquilo de que fala. O que a incomoda seria então apenas uma representação, uma arbitrariedade sua?
A sua morte não seria mais do que a definição, a posteriori, do momento em que teria cessado uma actividade sistemática que você não desencadeou, desenvolvida por um sistema que não desenhou e sobre o qual tem um controle muito limitado.
Quando designada à priori não passa um negócio e um meio de repressão ou intimidação.
"Sei lá" quem é que disse isto; ao contrário daquela expressão 'sei lá' que usa no seu texto e que não nos diz de que é que sabe lá ou não sabe lá quem a escreve... adiante; mal comparado, o medo da morte -uma inexistência, como já sugeri- leva-a a uma diatribe cuja finalidade não se entende
-o cadáver é a pessoa? Não, claro
-reconhece no cadáver alguma pessoa? Improvável e acessório
-se reconhecesse -uma improbabilidade- ficaria perturbada? De que modo?
-e eu, perante o mesmo cadáver?
etc etc
Ah, mas não se trata sequer de cadáveres! São apenas imagens aquilo de que fala. O que a incomoda seria então apenas uma representação, uma arbitrariedade sua?
A sua morte não seria mais do que a definição, a posteriori, do momento em que teria cessado uma actividade sistemática que você não desencadeou, desenvolvida por um sistema que não desenhou e sobre o qual tem um controle muito limitado.
Quando designada à priori não passa um negócio e um meio de repressão ou intimidação.
O sei lá é a certeza da dúvida.
Não, não vejo ali uma pessoa. E é precisamente isso q me choca; essa inexistência e despessoalização do sujeito, q já não é sujeito ali.
Apesar de os 'falecidos' terem dado autorização (antes, mas este dizer antes é dizer o óbvio q de tão óbvio perde qq relevância ética q possa ter), 'depois' eles não estavam lá e não poderiam pois arrepender-se da autorização. Entende onde quero chegar?
Claro q é um cadáver (q conversa tão macabra! :)) o q está ali; uma imagem apenas? não.
O seu último parágrafo? bom...
Não, não vejo ali uma pessoa. E é precisamente isso q me choca; essa inexistência e despessoalização do sujeito, q já não é sujeito ali.
Apesar de os 'falecidos' terem dado autorização (antes, mas este dizer antes é dizer o óbvio q de tão óbvio perde qq relevância ética q possa ter), 'depois' eles não estavam lá e não poderiam pois arrepender-se da autorização. Entende onde quero chegar?
Claro q é um cadáver (q conversa tão macabra! :)) o q está ali; uma imagem apenas? não.
O seu último parágrafo? bom...
Vi uma reportagem- já não sei em que canal - sobre essa exposição.
E sabes... pareceu-me uma boa ideia. Para aproximar os vivos da ideia de morte. Para não plastificarmos a essência da vida longe da vista como quem muda de canal para não ver o que o chateia.
Cada vez mais morremos em hospitais, longe da vista e da família. Cada vez mais afastamos o cheiro da morte do nosso quotidiano. E a meu ver, se nos tornamos assépticos à morte, custa mais dar valor à vida.
E sabes... pareceu-me uma boa ideia. Para aproximar os vivos da ideia de morte. Para não plastificarmos a essência da vida longe da vista como quem muda de canal para não ver o que o chateia.
Cada vez mais morremos em hospitais, longe da vista e da família. Cada vez mais afastamos o cheiro da morte do nosso quotidiano. E a meu ver, se nos tornamos assépticos à morte, custa mais dar valor à vida.
Eu concordo com todos os teus fundamentos mas não concordo com as tuas razões :)
Mas é como eu digo - ainda bem q cada 1 tem a sua opinião, só assim nos podemos abrir mútuas perspectivas.
Tenho mto respeito pela morte, Maria e medo de perder pos q amo, mas não preciso de ver 'mortos' expostos para estar sensível ao tema.
_____Por outro lado, acho q quem teve necessidade de ir ver, talvez precisasse dessa angústia...
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Mas é como eu digo - ainda bem q cada 1 tem a sua opinião, só assim nos podemos abrir mútuas perspectivas.
Tenho mto respeito pela morte, Maria e medo de perder pos q amo, mas não preciso de ver 'mortos' expostos para estar sensível ao tema.
_____Por outro lado, acho q quem teve necessidade de ir ver, talvez precisasse dessa angústia...
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