"Somos capazes de nunca reparar em algo só porque o estamos sempre a ver" (Wittgenstein)
Estava a meio do 12º ano e com notas razoáveis (entre a mínima de 12 e a máxima de 17) quando a vocação para as Letras, não tendo entrado em crise, encontrou um adversário poderoso: uma crescente paixão pela Medicina. Ponderados os factos, os reais e os imaginários, sondei os meus pais. Que se calhar aquilo não era bem o que queria, que gostaria talvez de perder uns anos e fazer o 9º ano de novo, mas desta vez na área A, na altura a de Ciências, que me levaria à dita Medicina. Surpreendidos, deram-me abertura mas disseram-me para ponderar os prós e os contras.
Acabei por não ter a paixão suficiente para me dedicar a algo que iria exigir de mim um esforço tremendo dadas as minhas dificuldades de base a Matemática e a Física, que, por mais maravilhas que sobre as suas virtudes me apregoem os meus amigos da área, não fazem
química comigo. Além de que, matutava eu, será que a paixão era assim tão grande? Não sei, nunca vou saber e não me interessa.
E isto vem a propósito de um livro que tenho aqui à mão, de que já falei anteriormente e que relata casos clínicos de um neurologista cuja abordagem parece ser a de recentrar o indivíduo dentro da doença. Não sei se é exactamente isto, mas o primeiro folhear das páginas cativou-me por me dar essa sensação. Os doentes não são só casos clínicos, são pessoas que sentem a doença, são sujeitos e objectos ao mesmo tempo.
Ah, o livro é
O homem que confundiu a mulher com um chapéu, de
Oliver Sacks.