A arma política do Rivoli
Há coisas que não compreendo bem. Porque é que o teatro Rivoli não há-de ser entregue à gestão privada? Porque é havemos de estar a contribuir para perpetuar sucessivos descalabros financeiros? Toda esta questão não é linear e parece-me à partida claro que da boa programação do teatro (até agora feita pela CM) depende, de entre outros factores, o sucesso de toda a obra. Mas que raio! Se toda a gestão puder ser melhor feita através de um modelo privado porquê tanto escarcéu? por questões políticas de origem duvidosa?
A cultura tem vocação universal, democrática e não elitista, não pode ser nicho de mercado para alguns, sobretudo quando utilizada em espaços públicos. E ninguém tem de estar a contribuir para que uma peça obscura que meia dúzia de pessoas aprecia se mantenha num espaço que é de todos (é perversa a questão para os okupas se pensada assim pois vira-se o feitiço contra os feiticeiros).
Eu não acho que se deva apenas cultivar o que faz sucesso, o popular e entendo que devem existir modelos alternativos e independentes, mas, haja bom senso! que faz falta em todo o lado. Não se entregue um teatro belo e simbólico da cidade do Porto a artes teatrais experimentais que pouca gente vai ver. O País pede-nos sacrifícios a todo o momento e a mesmo tempo há segmentos de classe intocáveis?
Entregue-se o Rivoli à gestão privada e a quem o possa encher de gente que tenha gosto em ir ao teatro.
--
A minha opinião acima defendida não significa que concorde com a reacção da CM Porto à ocupação do Rivoli. É muito mau que se tenha recorrido (desnecessarimente) a uma posição de força que não acrescenta nada e retira dignidade a quem a impõe: cortar água, electricidade, impedir o acesso de alimentos ao interior da sala.
Se se queria recorrer à força e mais cedo ou mais tarde isso ia ser necessário, parece-me, deixava-se que os meios legais actuassem. Não era preciso mais nada para defender uma posição para a qual se contavam com armas justas.
--
Não tenho mesmo nenhuma simpatia por estas causas de pessoas habituadas ao
seu espaço nosso público espaço que nos querem fazer crer que estão a defender algo que nos pertence quando estão a defender as suas coutadas privadas de exposição de artes experimentais. Isso chama-se manipulação. Gosto de ver ocasionalmente teatro experimental, explorar caminhos alternativos de arte mas entendo que há sítios para isso e que grandes espaços devem ser espaços privilegiados para a cultura mais democrática onde a toda a gente possa ter a vontade e prazer de ir.
E como não conheço as partes envolvidas tenho o prazer de me exprimir com total liberdade, sem paninhos quentes, e sem os constrangimentos que os conhecimento próximo inevitavelmente traz. E se com isto gerar alguns anti corpos paciência...
É o que eu penso. Não deixo de gostar das pessoas por pensar.