O crime do Padre Amaro
Não fui ver o filme com nenhuma expectativa especial. Li o livro antes de ser obrigatório estudar
Os Maias na disciplina de Português e, d'
O crime do Padre Amaro, como d'
A tragédia das Rua das Flores, ficou-me a memória de estórias muito bem construídas e contadas, perpassadas por fina ironia e um tendo como resultado um retrato arguto, livre e muito a destapar a hipocrisia/defeitos/humanidade? (não sei como chamar) dos homens e a crueza das instituições sagradas que por se quererem assim, profanam a humana natureza.
Gostei do filme. É uma adaptação livre do livro de Eça de Queiroz, gostei das interpretações de Jorge Corrula e Soraia Chaves (ele, encarnando bem [encarnando é a palavra...] um padre que parecia ser calmo e 'casto' mas já se lhe adivinhando desde criança o voyeurismo próprio da castração dos desejos sexuais, ela no papel de uma Amélia sensual e sedutora e depois mulher apaixonada).
O Nicolau Breyner é um excelente actor que tem sido desaproveitado em programas de suposto humor.
O Rui Unas e o Diogo Morgado estão excelentes como homossexuais efeminados.
Eu, que tenho algum receio de ser desiludida na adaptação de um livro ao cinema, quer tenha visto primeiro o filme, quer tenha lido primeiro o livro, gostei da adaptação: em tempos modernos, retrata os pontos quentes naquela época como agora, actuais, numa palavra. E sobretudo o que me parece é que, além de uma crítica à Igreja, é uma constatação banal de que os padres são humanos. E por isso não têm que ser 'castos' e celibatários. Isto parece-me tão básico até como pressuposto da moral da Igreja Católica. Se se pregam as virtudes e a bondade, e o amor e o respeito pelo outro, começe-se pelo respeito pelo próprio indivíduo. No caso, o seminarista, o futuro padre. Por outro lado e perdoe-se-me a crueza da expressão, mas acho que quem entra na
engrenagem deve ter
carácter ou sair. Fazer opções. Ou então corre-se o risco de a imagem que se cola aos padres é a de homens castrados e violentados na sua humanidade e virilidade. E acabe-se também com a imagem que a Igreja por vezes dá (e que se tenta limpar) de reduto para homossexuais.
O problema disto tudo está na sexualidade e na visão dela pela Igreja Católica como algo impuro, quando é, por
natureza, algo belo, puro e sagrado.
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