Um dia igual aos outros
Não sei como as lembranças aportam à memória mas recordei agora uma pessoa com quem falei há dias, num contexto profissional. Diz-me elas às tantas quando lhe peço o telefone para contacto,
Desculpe mas agora não me lembro, não o trouxe comigo e a minha memória não sei onde anda. Tenho doença bi-polar, a menina (às vezes chamam-me menina, outras senhoras, uma vez no início, chamaram-me menina drª, essa olhada à distância de mais de uma década é enternecedora)
sabe o que é? Ando muito nervosa e a ser medicada, agora estou mais ou menos bem, mas a memória falha-me tanto. Agora é uma doença muito falada e a senhora desculpe eu não me lembrar, eu não tenho culpa mas não imagina o que tenho sofrido ao longo destes anos. Tenho 60 anos e só agora é que as coisas começam a ser mais faladas sem medos. Agora até há cartazes a falar da doença bi-polar.Fiquei com vontade de abraçar aquela senhora, contive-me, mas a voz saiu-me doce e tranquilizante,
Não se preocupe nem me peça desculpa, eu sei que é uma doença comum a muita gente, as pessoas não falam por vergonha de algo de que não têm culpa. Quando for a casa tome nota do número de telefone e dá-me depois.À tarde a senhora veio, trouxe o número anotado e a vida e os dias avançam assim, com voltas e repelões, e às vezes tocando o mais profundo e frágil que há no outro. Sem pudor e com toda a verdade do que se sente e que tem de sair para não sufocar.
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