Não me deixes conhecer-te muito bem
Não expliques porque tremem os teus dedos
Diz-me e não digas o que sentes quando
uma porta se entreabre a chuva cai a voz de alguém
se aproxima ou afasta na neblina aos outros indiferente
Mal entrevista à vaga luz de teus segredos
quero e não quero saber que estás pensando
Quero e não quero saber o que em mim nasce e cresce agora
e já distante
vai Amor é uma palavra só e tão cansada
que amor não pode ser esta morada transparente
onde o que foi não há o amanhã se chama nada
e tudo sem porquê intensamente existe apenas no que é
um breve instante
Feliz de quem sabe não sabendo e tem sem ter alguém
que conhece até ao fundo e só quase conhece
ao lusco-fusco debruçado na amurada de si mesmo olhando
o céu e a espuma
do que espontâneo e simples acontece
alguém com quem se dá a volta ao mundo à mesa dum café
numa longa viagem sem regresso iluminada só por dentro
apenas por que sim
longa viagem sem destino interminável
que pouco a pouco se esfuma
simplesmente
simplesmente acaba e esquece
antes de chegar ao fimMário Dionísio
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