O elogio do silêncio*
O silêncio também é pleno. O fim de semana parece ter durado mais de 48 horas bem vividas, tal a forma como o tempo se distendeu, em harmonia, na ausência de stress, em busca semi-consciente do eu, perdido que tem andado na confusão e na pressa dos dias.
Disse não, sem esforço e com verdade, à televisão, aos jornais, à internet. Não fui para longe e nesse longe teria acesso a isso tudo. Foi opção interior, vontade de não deixar que o mar me levasse na correnteza dos dias em que cada um não seria mais que a sequência amorfa e sem sentido do anterior.
Semanas cansativas têm sido estas últimas. Na passada sexta à noite, estive quase a ir ao concerto de solidariedade no Fórum Lisboa (Espero que tenha sido um sucesso - à escala micro-mundo deste blog, fiz a divulgação, com gosto, de uma causa que admiro e de que reconheço a premência e a necessidade de quebrar tabus) mas o cansaço, a desorganização da secretária atulhada de papelada pendente que não o deveria estar e o ter que me levantar cedo no sábado, fizeram-me decidir pelo trabalho e lá voltei ao escritório para reorganizar prioridades e planear a gestão dos tempos para a semana seguinte, em sossego e no silêncio preenchido pela voz de Maria Rita, soberba.
O sábado voou. Esqueci-me de que já é Natal e à tarde
'bora lá ao cinema ao Colombo e depois visita prazerosa e demorada à Fnac. Mar de gente em todo o lado e na Fnac a apresentação do último disco de Jorge Palma encheu o espaço de ar quente e abafado, de gente, de ruídos que se infiltravam em todos os poros. Apesar do cansaço do corpo e do sono desregulado,
quem corre por gosto... e, munida de algumas notas mentais, indaguei um dos simpáticos e solícitos assistentes que nos ajudam nas dúvidas de quem não sabe bem o nome daquela banda, daquele autor... ;) Lá encomendei a banda sonora
Once upon a time in Mexico, comprei um belíssimo disco de um virtuoso do violino, instrumento que adoro ouvir, num som que vibra como as cordas cá de dentro e agarrei,
é meu, é meu, um dos livros da bem-amada Clarice Lispector.
Esgotada e cambaleante e feliz e esgotada e cambaleante (modo repeat) despedi-me dos centros comerciais aos fins de semana. Dois ou três meses de abstenção ou ad eternum nas tardes e um mês nas manhãs.
Domingo, perfeita a paz, os livros, o calor da casa. Nem música apeteceu. Uma coisa de cada vez, ritmo lento que também é meu, num respirar interior de prioridades e encontros por dentro. Uma saída para casa de amigos ao fim da tarde compôs um domigo perfeito. Perfeita a paz, os livros, o calor da casa. E à noitinha adormecer ouvindo
La marée haute, de Lhasa, estagiando para a próxima segunda feira, Aula Magna, dez da noite.
* Título de livro, bonito o título, de cujo autor não recordo o nome. Recomendada me foi a leitura do livro, avisada estou. Mas que fazer com o tempo que falta? Que ele,
tempo, existe, eu sei...mas onde o encontro? E de que terei de prescindir para o encontrar?
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