Os heróis
são pessoas como esta colega de infância que encontrei há uns meses depois de mais de 10 anos sem sabermos uma da outra. Encontrámo-nos casualmente, ela está igual, mas se calhar há na memória um filtro mágico que metamorfoseia os outros na última imagem que retivémos deles.
Trocámos números de telemóvel, marcámos um café com tempo mas os desencontros e os acasos ainda não concretizaram uma conversa mais longa. Hoje quando nos encontrámos, de novo casualmente, e ela me contava os últimos desenvolvimentos a nível de saúde e remata com um
isto há-me melhorar, mais dor menos dor, eu senti a força mas também a tristeza das inevitabilidades tristes. Ela sempre foi normalmente saudável mas nos últimos anos tem vindo a lutar persistentemente contra a dor, a desesperança, o mistério das coisas insondáveis. Não há nunca respostas para estas coisas, e o conforto são palavras apenas. Mas acredito que se são sentidas ouvem-se de lado de dentro do coração.
Ela é uma heroína, uma anónima heroína com um emprego precário e mal pago e tem limitações resultantes de uma série de problemas que lhe roubaram parte substancial da saúde e as asas do desejo de ser mãe. Atrás daquele sorriso esconde-se, mal escondida, a dor. Mas também a valentia, a determinação, o
estou viva.
Hoje senti que estava perante uma heroína real, de carne e osso; não aparece nos jornais nem é conhecida - o que a torna ainda mais vip nas histórias da minha vida.