Avô,
Hoje vi-te os imensos olhos azuis a sondar o mistério. Não eram enormes os teus olhos mas o azul era tão profundo que se agigantavam valentes, imperiosos.
Eu vi-te a pairar e estou tão grata pela oportunidade de ter estado a teu lado a segurar-te a mão. Os teus olhos imobilizavam-se lentamente enquanto eu falava contigo, a porta fechei-a, só nós dois, ter-me-às ouvido? Dizem que sim, que as pessoas que estão perto desta última viagem têm o sentido da audição mais desperto. Precisavas tanto de partir, disseste ontem que não passavas desta noite e de manhã cedo estendeste os braços para o Alto, estarias a ver a
avó num campo de margaridas?
Sei que me ouviste,
sei que estavas já a ver o outro lado mas ainda ouviste a minha voz deste a dizer-te: Obrigada, vai em paz e que Deus te acompanhe.
Em memória do meu avô José Eduardo
........27/06/1920 - 11/04/2009Etiquetas: de amor