E agora, José?
Quando se imagina que uma determinada condição física de limitação e dependência se pode arrastar no tempo e à espreita está a imensa dúvida da recuperação, há que adaptar a vida e os planos aquilo que só acontece aos outros. Como na reportagem da sic, lembram-se? Que nome fantástico e persuasivo lhe deram, não poderia ser melhor que este: "Só acontece aos outros" - um nome que é um murro no estômago da nossa
independência. Quando o caso não é grave nem tem toque de irreversível, a dependência é uma imensa maçada, pois é, limita-nos muito, faz-nos depender dos outros para coisas básicas do dia a dia, mas sabemos que amanhã, dali a uns dias, três semanas ou dois meses estaremos na posse da nossa
independência. E como ela sabe duplamente bem quando é reencontrada. Imagino que haverá alguém que se reverá numa ou noutra das circunstâncias pelas quais faço voo rasante e de fugida.
Adia-se porque se pode adiar. Se não há razões para adiar, vai-se, com apoio dos outros, dependente, mas quem é que pode em rigor dizer que é
independente? Rodeamo-nos de computadores, de máquinas que nos poupam tempo e fazem as coisas por nós, vamos ao supermercado on-line, vamos ao Espaço, podemos trabalhar em casa, temos dinheiro e podemos comprar o mundo, quem é que precisa de alguém?
É tudo uma ilusão de independência e autonomia. O homem mais livre é aquele que menos precisa de bens materiais para viver. O que não precisa do telemóvel que lhe controla os passos e o deixa à mercê do mundo; o que não faz sacrifícios para ter a roupa de marca nem para ter o carro que impressiona os amigos; o que sabe que a vida é um momento breve que dura umas dezenas de anos
e depois