A propósito do Processo Casa Pia
O que me impressionou quando assisti a um dos talk-shows da
Oprah Winfrey sobre pedófilos foi o quanto são pessoas tão normais e banais que qualquer um o poderia identificar como sendo um normal pai de família. Numa das ciladas montadas propositadamente por um programa de televisão que dá a conhecer a cara de potenciais pedófilos para, também, imagino, das provas em flagrante obtidas retirar a lei penal consequência, compareceu, entre outros homens
normais, para um suposto encontro com um suposto adolescente, um homem de 30 anos trazendo consigo...o filho de 3 anos.
Também por esta aparência de normalidade não me causa espanto que alguma das pessoas acusadas de actos sexuais com menores no processo Casa Pia (ou mesmo algumas que não foram acusadas) tenham efectivamente praticado aqueles crimes. Os pedófilos são pessoas normais de graus diversos de instrução e maior ou menor poder (o poder!) que conseguem ganhar a confiança das crianças e estas, seduzidas por essa pessoa
boa que lhes dá afecto (e/ou dinheiro, mas isso não atenua o crime) acabam enredadas numa teia psicológica difícil de desenredar. E de provar. É natural que alguns dos seus depoimentos sejam ambíguos e incertos porque uma violência destas pode desestruturar psicológicamente uma criança. Pessoalmente não consigo acreditar na inocência daqueles arguidos e de outros que não chegaram a ser acusados. Eles até podem casar, ter filhos e acredito que as respectivas mulheres não saibam e neguem veementemente este mundo paralelo que desconhecem, mas eu, apesar da ingenuidade que às vezes me salta dos olhos, não consigo acreditar neles, simplesmente não consigo. Os documentos, aos relatos das testemunhas, a investigação do
António Caldeira neste que é também um
Portugal Profundo de mistérios e favores ao mais alto nível, convencem-me, a mim que não tenho poderes para julgar mas sou uma cidadã minimamente atenta, de que há muita coisa que irá permanecer escondida. Dolorosamente escondida. Injustamente escondida.