Parêntesis
Eu não sei porque escrevo. Interessa pouco à humanidade o que digo, o que penso, o que imagino ou ficciono. Não vai mudar o mundo e dir-me-ão os meus amigos em coro, se paciência tiverem, a paciência que me falta, que a minha ambição secreta seria fazer A Diferença. Mas nã... Ser famoso dá muito trabalho e custa a privacidade, os olhos dos outros sempre postos em nós, os melhores lugares dos restaurantes sem esperarmos democraticamente pela nossa vez, isso é injusto. Hum, onde é que já vou (voo)? Vejo-me a mudar o mundo? ah ah! a ser tão conhecida na rua que me perguntarão os entrevistadores se não me aborrece tanta exposição, ao que eu responderão que não, que as pessoas são muito simpáticas e que só raramente me admoestam pelas minhas posições polémicas, ou me lançam encómios por ser excelente ponta-de-lança ou pelas minhas descobertas científicas ou então pela minha participação exuberante nos reality shows da Tvi, ou ou ou ou, todas situações que como se sabe contribuem para mudar o nosso mundo, um grande e o outro pequeno, sendo as prioridades arbitrárias. E olho para trás e vejo que, xi! fiz uma frase de cinco linhas, vou lê-la, entender-me-ei? Uma frase tão comprida desmotiva a leitura e lá se vai a minha ambição secreta de mudar o mundo com a força das palavras.
Cheira-me a queimado na cozinha.