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La marée haute
quinta-feira, outubro 27, 2005
  Avó

5 anos sem ti, avó, e penso nas coisas em que nos entendíamos e nas vezes em que nos chateávamos uma com a outra, na cumplicidade quando me dizias às escondidas o que querias que eu comprasse para o pai, a mãe ou a mana nos aniversários e no Natal. Penso nessa força incrível que te levou a ajudar as pessoas na altura da 2ª Guerra, quando as senhas de racionamento chegavam e tu as distribuias. Penso na dor que foi perder dois filhos. Penso na solidão que terás sentido quando o avô morreu de cancro aos 50 anos, e quando mais tarde, os teus irmãos partiram um a um. Penso na alegria e na força que transmitias à família. E tão teimosa que eras, avó, as brigas que tivémos, 'P.C!!. Parece impossível!' Tão felizmente orgulhosa, tão digna. Um dia sonhei contigo e acordei tão feliz, não entendo. Nenhuma tristeza ou nostalgia me assombrou o dia, foi como se estivesse estado contigo, a teu lado, foi como um presente que caiu no meu sonho e se materializou na paz que senti quando acordei.
Penso no enorme amor que te tínhamos, te temos, e de como foste acarinhada por nós até partires. No imenso amor com que nos cobrias. Iamos-te ver todos os dias, um de nós ia sempre. Lembras-te de aquecer as minhas mãos frias na véspera da tua morte? E no dia a seguir o telefonema. Tive que te ver, parecias dormir, o teu rosto estava quente e eu olhei-te e não sei o que senti. Intuía que estavas bem, que estavas numa dimensão diferente de vida, que pairavas sobre a pequenez do corpo físico.
Avó, adorarias conhecer a ondinha rosa. É linda e parecida contigo no jeito determinado com que nos encara, na voz alta e afirmativa, na vivacidade do olhar e naqueles olhos grandes que interrogam as coisas.
5 anos sem ti em 38 de vida. A vida é um estado transitório, e carrega desde o início a condenação à morte. Estou assim e bem que poderia guardar esta conversa para mim mas apetece-me escrever aqui, onde posso ser lida ou não, mas apetece-me. E sabemos bem como sou teimosa e senhora do meu nariz que graças à genética, é arrebitado como o teu.
Ainda nos emociona falar de ti. Sei que não estás naquele lugar físico onde deposeram o teu corpo inerte. Sei que estás além disto. Mas preciso de ir lá de vez em quando. Deixo uma rosa e parto.
A outra avó vive, vegetando. Não nos reconhece. E eu amanhã vou acordar calmamente, pensando serena que as coisas são como são e que nada nos está garantido nem nada nos é prometido à partida. Mas hoje não quero falar mais, quero sentar-me sossegada no sofá e não falar, preciso de recolhimento e silêncio de tudo. Preciso de não pensar. Não estou triste nem contente estou algures por aí.
 


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Sur la marée haute je suis montée la tête est pleine mais le coeur n'a pas assez. Lhasa de Sela


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