Quase-a-ler
A Clara Ferreira Alves, numa crónica recente no
Expresso , no seu modo irónico e descontraído de ser em escrita, falou dos hábitos de leitura dos portugueses, nomeadamente em férias. Uma crítica certeira a desancar no suposto
ficar bem dizer que se leva para férias uma quantidade enorme de livros para ler, compensando assim o défice do resto do ano. Claro para mim que me revi um pouco naquelas sábias palavras (a CFA também consegue ser irritante quando quer) excepto na parte do
ficar bem, honra me seja feita, embora haja certos livros que não estou a ver a folhear na praia, o Kamasutra ilustrado,
sei lá.Ok, falando bem e depressa, que a campainha está quase a tocar para a entrada no escritório depois do lanchinho, como é que se pode compensar a falta de leitura do resto do ano? Ou uma pessoa está os dias todos de lazer a mergulhar os olhos nas palavras ou então simplesmente não dá! Eu tenho mais de meia dúzia de livros para ler, que
quero ler, entre emprestados e próprios e claro que não os vou ler. No entanto a compulsão é grande para os trazer, comprar ou tomar de empréstimo mas vou refrear-me. Levo os livros, todos. É assim uma espécie de segurança, saber que os tenho à mão, reflexo condicionado diário que a visão de uma cama aberta para dormir, um sofá apetitoso ou uma toalha num areal me sugerem.
Posta esta introdução (posta de post), há que dizer a bem da sociedade de informação quais os livros que não irei ler até ao fim, nas férias.
Não, o Código de Da Vinci está fora de questão, até para começar. Nem nenhum dos top mais. Já li a Margarida Rebelo Pinto e o Paulo Coelho, livros que a nossa elite que só lê Dostoievsky não admite sequer ter pousado os olhos na capa. A verdade é que hoje não me dizem muito. A Guidinha MP repete exaustivamente a fórmula ganhadora do suposto retrato da mulher urbana, com um marinheiro em cada porto que não sei como se aguenta tanta viagem, e digo eu que tanto gosto do mar. E depois é a exploração dos dilemas emocionais, das tristezas e dos amores infelizes (há um livro cujo título é brilhante 'Receitas de amor para mulheres tristes'. Espírito positivo,é o que se quer. Bela mensagem.)
Ainda se ao menos as pessoas e os dilemas existenciais fossem abordadas de uma forma menos linear, até se consumia. No entanto, o facto é que os livros se vendem. Uns prostitutos, é o que são. E a GuidinhaA autora está sempre a facturar e faz bem que tem de se fazer pela vida.
O Paulo Coelho é outra persona non grata da elite. Li dois livros deles e acertei pois os outros não me suscitaram curiosidade. A espitualidade ligada à religião e a alegada tentativa de conversão não são argumentos que façam sentido. O que me aborrece mesmo, aqui para nó,s são as unanimidades, mesmo que relativamente a algumas me inclua, mea culpa.
Numa conversa recente com um amigo falavamos do assassinato que a indústria musical e livreira podem fazer às músicas e aos livros, pela exaustão.
Na verdade não gosto actualmente da MRP e do PC (Ficou-me bem dizer isto, não foi?) Trago comigo e estão espalhados pela casa livros vários, por ex, o Gato Fedorento-Blog, O fim da aventura, de Graham Greene e uma antologia erótica de autoras de Língua Portuguesa, ardentemente escrita. Ah e tenho uma
Visão de há umas semanas para andar informada e já não tenho paciência para o culto ao
Expresso cujas folhas enormes são pouco práticas de manusear. E eu não tenho idade nem estatuto para fazer fretes (
hoje andamos muito tolas, menina Vague)
E pronto, tenho mais livros na calha e ao calhas mas não me lembro agora quais são.
(Veja-se que acentuei um tom coloquial neste texto, editora estejam atentas que a seguir ao Barnabé e à Rititi vou eu [ok, há mais gente na fila, esqueci-me, mas eu nem preciso de me pôr em bicos de pés que sou alta]).
Nota da
autora: Que não se veja neste texto (ou vejam, a interpretação é de cada um que ler ou não ler) alguma tentativa de diminuir a qualidade e a graça peculiar de alguns livros-blog. Claro que até agora para mim o livro blog de referência é o 'Ruínas Circulares' Unanimidade minha.
Muito mais gente, conhecida e desconhecida merece ver os seus textos editados, pois são de uma qualidade que arruma sem esforço certa concorrência.
E é a esses, que leio com prazer ou não leio, conforme a vontade e a cor do tempo, que espero ter o grato prazer de ler em edição impressa. E sei que vão lá chegar.
E vou trabalhar ou apanho falta.