Rokia Traoré, Afel Bocoum, Tinariwen, Ali Farka Touré
Madrugada, madrigal. Banal simplicidade!
Não devia ser necessário argumento algum para levar um ocidental a admirar profundamente o blues cósmico do Mali (...).E no entanto, mesmo para a maioria dos melómanos, não são nomes consensuais - ouviu-se falar, mas parte-se do princípio de que é gente exótica, que veste tapeçaria e anda descalço. Os ocidentais gostam de fazer de conta que gostam dessa gente - e frisam a expressão "essa gente". Acontece que "essa gente" pariu a nossa música e a nossa música continua milhas atrás do berço - o renovável berço de onde parece surgir mais um diamante negro. ´
(...) A guitarra tece a trama, a kora a teia os motivos. Surpreendentemente não estamos em terra de blues, embora ele surja, sujo de uma noite anterior à divisão da luz. Aqui pode haver Cuba e noutro segundo Guiné. A guitarra abalança-se aos ritmos quebrados do "highlife" do Gana. Por vezes há uma impressão de morna. A ausência de fronteiras não é coisa do acaso, nem manifestação de vanguardismo avulso: é que esta música nasceu antes de haver uma palavra que designasse "música".
(...)
Não podemos ter a arrogância de querermos compreender um disco assim. Mas podemos, orelhas ao alto, silêncio na garganta, admirar uma coisa assim, em jeito de milagre.
João Bonifácio, em
Público, 24 de Junho de 2005
Apesar de ter trazido, movida pela velha curiosidade do gato, um dos discos de Ali Farka Touré; depois de ter ouvido de amigos melómanos a expressão máxima do fascínio, apesar de me ser também transmitido pel'
A Mega Fauna o encanto por Touré (que é também o presidente da Câmara de Nyafunké), o excerto da crítica acima transcrita levar-me-ia, quase por si só, a procurar sentir algo ao vivo que não sei bem como será.
Convencidos para assistir ao concerto de Ali Farka Touré? :)