Não entres tão depressa
nessa noite escura*
Deixa-te ficar como estás, enrolado no meu peito, menino a pedir colo. Gosto de te ver assim, homem grande e desarmado nos meus braços. Só assim desarmado és meu e eu tua, sem a gravidade do amanhã e o peso do efémero que nos tatuou.
A noite é bravia e dentro dela está a esperança a certeza de um futuro a duas mãos separado e de dois caminhos paralelos.
Espreita a noite, olha as estrelas, fixa-te na maior, eu estarei a fitá-la do lado de cá do sentimento.
Dá-me o meu abraço, que é nosso para sempre e digo-o com a segurança de quem sabe que o sempre ou não existe ou é incerto.
Não vás já, espanta a noite mais um pouco e ajuda-me a adormecer. Depois serei eu a pedir colo e a buscar a tua mão, colando-a à minha até que o sono vença. E quando saires apaga a luz por favor.
*António Lobo Antunes