Para o H. o D. e a M.
Procurei um texto* que escrevi no outro blog em Setembro do ano passado sobre o trabalho pioneiro da equipa de neurologia do Hospital Egas Moniz, liderada pelo médico Carlos Lima, trabalho notável a nível internacional e a que infelizmente este belo país de politiques e mesquinhices, não dá o apoio e incentivo que ajudariam muitos milhares
de nós ou como nós. Não entendo como não se apela à sensibilização numa área tão intensamente frágil como a das lesões medulares. O
Correio da Manhã de domingo passado fala nesta magnífica equipa e na sua
descoberta de como as células estaminais do nariz, pela sua capacidade contínua de renovação podem ajudar a tratar lesões da espinal medula.Carlos Lima queixa-se da falta de apoio das entidades oficiais portuguesas para este projecto, fala do reconhecimento que tem no estrangeiro e que está em perfeito contraste com o que se pode chamar de indiferença em Portugal. Que é feito da dinâmica? Será que a gente que manda neste país nunca foi a Alcoitão? Não conhece ninguém que tenha ficado paraplégico aos 15 anos por um acidente de moto ou tetraplégico aos 28 num acidente de carro? Eu também não até um dia (A maioria dos paraplégicos tem à volta de 30 anos e a causa principal da lesões medulares são os acidentes de viação)
E falámos nesses já distantes anos da legitimidade da esperança. Falava-se de Cuba, de Espanha. Há poucos anos li na
Visão o artigo sobre esta equipa pioneira que logo recortei. Voltei a ler o ano passado a referência que a mesma revista fez ao caso e vejo com agrado que o
Correio da Manhã de 27 de Fevereiro deu honras de destaque à recuperabilidade dos lesionados da espinal medula. Deixo aqui as palavras do neurologista Carlos Lima
: Este estudo só avança a partir do momento em que se começa a falar dele lá fora. "Não tenho dúvidas nenhumas que se tivesse ficado nos limites de Portugal já tinha acabado há muito tempo. O grande apoio que temos vem do estrangeiro, não de cá. Por aqui, não atrapalhar é o mesmo que ajudar."*Movimentos de esperança
Lembro-me de há bastante tempo ter lido na Visão um artigo sobre o neurologista português Carlos Tavares, a propósito da descoberta e desenvolvimento de uma técnica pioneira para tratar lesões da medula. Tanto quanto os meus conhecimentos de leiga me permitem entender, e não pretendendo alongar-me ou dispersar-me em termos técnicos, a recuperação de parte da sensibilidade dos movimentos do corpo, atingida pelo seccionamento da espinal medula, por exemplo num acidente de viação, é feita através do transplante de células da mucosa olfactiva, que, por possuirem determinadas propriedades estudadas e descobertas por este médico do Hospital Egas Moniz, têm o efeito de restabelecer a ligação entre os neurónios e/ou as células; falta-me a terminologia exacta para tentar transmitir a ideia com que fiquei, mas trata-se de um progresso admirável e que nos enche de orgulho e, também, de uma muito cautelosa esperança para as pessoas vítimas de paraplegia e tetraplegia. Não sei se a todos os lesionados da medula espinal pode ser aplicado este tratamento, que consiste basicamente numa cirurgia de transplante, não sei os custos, nem a que ponto a mobilidade e o controlo dos movimentos são recuperada. Sei que em todos os doentes operados se verificou recuperação de alguma sensibilidade e controlo motor. Num país como o nosso, triste rescordista de mortos e acidentados graves na estrada, esta esperança é encorajadora e feliz. São coisas como estas que me deixam deslumbrada com as infinitas possibilidades da ciência e orgulhosa dos nossos investigadores.
Foi também na Visão de uma semana de Agosto passado que tomei conhecimento que Carlos Tavares teve honras de destaque no programa de Larry King, exactamente pelo pioneirismo da investigação e dos resultados alcançados e que em breve iniciará nos EUA as diligências no sentido de aí validar a sua técnica.
Roubo as palavras ao repórter da Visão para dar o título a este texto e para o terminar: Trata-se de verdadeiros 'Movimentos de esperança'.25 de Setembro 2004, algures
Nota: Quando ontem escrevi este post acentuei a parte negativa da falta de apoio oficial das entidades portuguesas a este notável trabalho de investigação e já cirurgia de auto-transplante de células do nariz, pioneira e única (só se faz em Portugal e no Hospital Egas Moniz este tipo de cirurgia), à qual recorrem lesionados medulares de todo o mundo, sendo que até hoje apenas cerca de 50 pessoas efectuaram a cirurgia, já que existem requisitos para se ser candidato à tal cirurgia.
Hoje quero acentuar igualmente mas com maior força, a investigação e a descoberta dela resultante e que é como uma lufada de ar fresco de esperança para alguns dos lesionados e que tem tido resultados práticos efectivos a nível da mobilidade, inclusivé de tetraplégicos. Para uma pessoa que está imobilizada, o pequeno passo de mexer um dedo, de apertar uma mão é uma alegria inimaginável.2005/03/02