Um breve relance...
Espero sinceramente que este ano, 2005, seja um ano bom. Acho ao mesmo tempo um pouco patético e forçado dizer isto já que um 'ano bom' ou um 'ano mau' nunca o é completamente e em absoluto nem em qualquer dos casos para toda a gente ao mesmo tempo.
A comunicação social tem um papel poderoso na transmissão da informação (ao minuto e em directo) do que se passa no mundo e se bem que podendo ser/sendo tendenciosa ou sujeita a regras editoriais, informa-nos
do que se passa. Ou melhor, partindo do pressuposto que nos informa da
verdade, não nos dá
a verdade toda. Não falo em concreto do que se passou na Ásia, que deu aliás origem a uma
solidariedade mundializada (ouvi esta expressão na rádio África e gostei da sua força como se fosse semente de esperança que transcende diferenças), mas extrapolo para situações de guerras e genocídios que se praticam ou praticaram durante dezenas de anos e que foi assunto quase tabu nos jornais, ou tratado de raspão. Os defensores dos direitos humanos (expressão pomposa na qual literalmente me incluo porque os defendo), a Amnistia Internacional e as ONG's acabam por ter um papel mais significativo, ultrapassando a comunicação social, que se rege pelo princípio dos grupos económicos, é incontornável isto. Os blogs e a sua dimensão universal de acesso e colocação à disposição das notícias quase ao segundo, que se cruzam com as várias 'fontes' a todo o momento, possibilitada pela dose maçica de informação das agências, de jornais e tvs locais quando não controlados pelo Governo dos respectivos países dá-nos uma perspectiva mais abrangente deste fenómeno
o que acontece no mundo.
É bom começar o ano com o rosto virado para o sol ou perscrutando a lua e as estrelas da noite, é positivo, é uma boa onda (expressão quase perversa esta pela ferida que respira e não sara tão depressa). Ao mesmo tempo, não é a 12º badalada a anunciar o 1 de Janeiro que apaga as memórias, os dias não são estanques nem nós somos autómatos. Na manhã de domingo vi uma resenha do ano que passou feita pela sic notícias. E recordei as crianças de Beslam, o atentado de 11 de Março em Madrid e o som aterrorizador de um telemóvel a tocar dentro do bolso de alguém que já estava morto. Recordei a permanente ameaça do terrorismo, os fanatismos religiosos, a nossa impotência face a isto tudo e finalmente à fúria dos elementos, nesta onda gigante que semeou a morte. E lembro as 11 famílias que perderam os seus entes queridos em
previsíveis acidentes de viação entre o Natal e o Ano Novo.
A inocência é por isso algo tão belo e triste que se perde. Há pessoas que têm a sorte de a perder tarde na vida, outras há que cedo são obrigados a se desligar dela e até a esperança parece palavra vazia em certos momentos que
passam, pois tudo passa, a vida, a morte, o amor e o esquecimento.
Há no entanto uma diferença cultural assinalável na forma de encarar as tragédias, que difere do ocidente para o mundo oriental. Há uma espiritualidade e até uma certa inocência (lá volto eu à palavra) que dá ânimo e
resignação.
Não é um texto triste este, não é alegre, é de não classificar já que
é algo de intermédio, como diz Fernando Pessoa num dos seus poemas e porque a diferença entre o dia 31 de Dezembro e o dia 1 de Janeiro é apenas uma questão de tempo.