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La marée haute
terça-feira, novembro 02, 2004
  Liberdade de expressão e consciência cívica não podem ser utopia...pois não?

Recebi esta 'carta' por mail e apercebo-me que tem circulado pela internet fora. Omiti deliberadamente a morada e telefone do autor do texto, já que ninguém me encomendou a divulgação por blog, apesar de este ser um blog de fraca tiragem :) e por seu lado os mails alcançarem muito mais gente.
Não averiguei a veracidade deste caso em concreto mas não me surpreende absolutamente nada que isto tenha acontecido; e se não aconteceu com esta pessoa em particular aconteceram casos de contornos semelhantes com outras pessoas quaisquer. Tomando de empréstimo a expressão de J. Pacheco Pereira, reitero: Pobre país o nosso.
Não são de agora estes condicionamentos à liberdade de expressão, de opinião. Não precisamos de nos reportar aos anos da ditadura, de que não tenho memória pessoal e por isso ainda mais me choca esta possibilidade de não se viver em liberdade de dizer o que se entende, com a ressalva, sempre presente, dos limites da liberdade do outro e do princípio do contraditório, expressão tão em voga também.
Fosse qual fosse a cor política de quem está à frente deste país, aconteceria, como aconteceu no passado, com o PS e, valha-nos Deus, ainda bem que o PC não está na linha da frente do pelotão. São vários os casos que, independentemente do partido que está e esteve no no poder, se tem conhecimento, mesmo que não se fale abertamente no assunto em meios próximo-dependentes (sobretudo aí).
São os compadrios das Câmaras Municipais com os empresários da construção civil, as viagens de trabalho /leia-se lazer e negócios próprios que fazem a capitais europeias, são as ligações a clubes desportivos e isto talvez seja a ponta do iceberg. Imparcialidade exista e preservando o principio in dubio pro reo, não quero acreditar que esta situação seja regra geral. Parafraseando Chico Buarque de Holanda eu diria que a coisa aqui está preta...
Às vezes dou por mim a pensar que acordei de um sonho, e nesse sonho o meu país era o tal cantinho à beira-mar plantado, cheio de sol e gente acolhedora, à margem de problemas graves de violência, de droga, de pedofilia.
Acordo e vejo que o sonho durou tempo demais. Acordo e vejo que enquanto sonhava, feliz na ignorância do país real, este mesmo país vivia uma vida paralela, que se tem vindo a afirmar, no sub-mundo da droga, da pedofilia, da prostituição infantil, sendo mais um local de passagem e de chegada dos circuitos internaciomais. Penso para mim mesmo que não descobri nada de novo no mundo. Que tudo isto existia e existe há tempo demais. Que eu era que não via, enredada nos anos da adolescência e depois jovem adulta na liberdade que não conquistei e que para mim existiu desde sempre. O mundo não vai mudar, eu sei, só porque meia dúzia de gatos pingados fora do círculo da informação profunda descobre a crueza por si. Não posso dizer que estou demasiado surpreendida, de certa forma o que acontece é que tudo isto que se está a passar vem confirmar os meus receios, os receios que me inquietam desde que comecei a pensar este país. Talvez o fim da faculdade e a entrada no mundo real dos sonhos deixa-os estar onde estão tenham marcado a viragem sendo que estes últimos tempos (meses?) têm sido de uma violência cívica muito grande e de uma crescente sensação de impotência. Como diz José António Saraiva no editorial desta semana do Expresso, o 1º poder não é o Político; no pódium estão por esta ordem, o Poder Económico, o Poder dos Média e finalmente, the last and yes the least, o Poder Político.
Segue o mail que recebi e agradecia que me dissesem se este mail é o retrato desta realidade concreta ou então não digam nada, mesmo que não seja, mesmo que seja ficcional, é o retrato do que se sabe e se comenta à boca-pequena, com as tal sensação de impotência e comodismo.
É em alturas assim e porque a Política não me fascina actualmente e porque, para ter voz teria (?) de entrar nos eixos de um eventual partido a que aderisse (pelo que já não sou nem quero ser militante de um partido), é em alturas assim que me apetece fazer as malas e partir para um sítio mais cheio de sol por dentro, em que as pessoas sintam o apelo da res publica e se sintam imbuídas de sentimentos cívicos, em que a solidariedade e a acção possam não ser apenas sonhos mas forças que se unem, até chegar a mundos maiores, pequenos passos que se dão e que fazem um caminho sem regresso ao passado (O caminho faz-se andando, diz o poeta). O que me prende é a casa e a casa são as pessoas que amo e este sol, esta ligação, esta vontade de não os abandonar em busca do arco-íris que nem sei se existe. Mas se tivesse coragem e deixasse o medo escondido, tremendo dentro de mim, iria para a América, para um Estado a escolher, para um sítio onde apesar de tudo a liberdade existe e a consciência cívica é grande. Nova Iorque quem sabe um dia o sonho o medo a casa a realidade.


Exmo. Sr. ou Sr.ª:
Vem isto a propósito do caso Prof. Marcelo Rebelo de Sousa. Nasci e tenho vivido num pequeno concelho (Pombal) do Litoral-Centro> (Distrito de Leiria). Não milito em nenhum grupo partidário. Sou um simples cidadão nascido seis anos antes do 25 de Abril de 1974. E como cidadão, ingénuo a pensar que haveria liberdade de expressão e de opinião, criei em Julho passado um "blog" na Internet que pretendia ser um espaço de reflexão e de debate de ideias, com críticas construtivas, sobre que está a acontecer na minha Terra. Nomeadamente sobre a actividade da respectiva Câmara Municipal e outras instituições. Esse "blog" num> espaço de dois meses registou mais de 6.700 visitas, tendo sido comentado em grande número por outros cidadãos/munícipes. A respectiva autarquia, presidida pelo social-democrata Eng. Narciso Mota, nunca usou o princípio do contraditório. Apesar de reconhecer que alguns dos temas abordados tinham a sua veracidade, alterou alguns procedimentos, dando razão ao que por lá se escrevia. Reconhecendo que o "blog" era incómodo para o Poder (leia-se, Câmara> Municipal), o senhor presidente entendeu que a melhor forma de usar o "contraditório" era acabar com o mesmo. Vai daí, entrou em contacto com a direcção/administração da empresa onde eu trabalhava e denunciou a sua existência, fazendo ver que o "blog" era "gerido" em horas de expediente. A direcção da empresa de imediato, e justificando que aquela situação lesava a relação institucional com a Câmara Municipal, até porque necessitava desta para legalizar algumas situações pendentes, despediu-me. Isto, não argumentando com falta de profissionalismo ou de produtividade. Mas sim, porque o senhor presidente da Câmara assim os contactou para o efeito. Esclareci a situação e comprometi-me a eliminar de imediato o "blog", o que foi feito e aceite. Precisamente um mês depois, e pelo meio alguns encontros realizados entre o presidente da Câmara e a> direcção/administração da empresa, fui novamente confrontado com o despedimento. E perante duas opções: instauração de processo disciplinar ou demissão voluntária, optei pela segunda.Ou seja, a intervenção do senhor presidente da Câmara Municipal de Pombal neste processo é um facto. Tanto o é que um dos seus vereadores afirmou perante algumas pessoas "já acabámos com o blog". Esta situação é notoriamente idêntica à que aconteceu com o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa. Na sua proporção, obviamente. Mas, com um senão... o meu futuro. Estou desempregado, com duas crianças de 20 meses para criar, casa e carro para pagar. E esposa também desempregada. E tanto mais que, ainda há dias, ouvi da boca de um eventual empregador: "reconheço que és a pessoa indicada para o meu projecto, mas quando o senhor presidente da Câmara soubesse, caía o Carmo e a Trindade. E eu não quero ter problemas com esse senhor". É triste que 30 anos depois de uma revolução, ainda haja quem de uma forma nojenta e vergonhosa, censure as vozes discordantes para que estas não expressem livremente as suas opiniões.
Com os melhores cumprimentos
Atentamente Orlando
Manuel S. Cardoso
E-mail: orlando.cardoso@zmail.pt
 
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