No zapping habitual do rádio do carro, num programa qualquer, uma frase atravessou o ruído e impôs-se, distinta e clara: é preciso haver um lugar para a imperfeição. publicado por vague às 18.12.084 comments
Volto à história da culpa mas ao olhar para o fim deste curto texto, vejo que não é ainda hoje que a dou por terminada. É que, há dois posts atrás, tanto deambulei que, sem ter chegado ao ponto de me perder nas palavras, não cheguei com elas até ao porto prometido. Que era dar um pouco de notícias minhas, deste 'alguém' nesta terra de 'ninguém', não sabendo eu agora se falo da vague se daquela que lhe dá 'corpo' ou 'vida' (sim, que isto é real). E com esta consegui baralhhar-me a mim própria ou fingir que me baralhei, que é uma pseudo-artimanha para criar pseudo-suspense a partir do pseudo?-nada.
Eu sinto-me culpada - este velho complexo de culpa, da idade do mundo - de não ser ultimamente presença certa ou ocasional nos muitos blogs onde gosto de descobrir outros olhares. E dirijo-me, quando assim desabafo, aos blogs cá de casa, sítios onde as portas estão sempre abertas e uma pessoa entra e se sente em casa, sem pedir licença nem receio de incomodar.
A verdade, no entanto, é que nos blogs adjacentes aos de cá de casa também entro sem grandes formalismos. Para mim um blog com sistema de comentários faz sentido se tiver o espírito da sua definição: estar aberto aos olhares dos outros e dos respectivos comentários. Não me importa que seja o o blog do sr anónimo ou do sr. ministro. Sou educada com ambos e não me merece mais consideração este que aquele . Porque a minha educação e formação não dependem do meu interlocutor, são características que vêm nos meus genes.
Engraçado. Pode-me apetecer em qualquer blog comentar e escrever, com a naturalidade que me é inata aqui. Lá fora a timidez permeia o contacto mais pessoal e aí sim, se calhar tenho alguma cerimónia com desconhecidos e uma timidez que desmente a aparente extroversão. E eu serei qual, tendo em conta que não sou nenhuma das minhas personagens?
Como nos contos infantis o cão 'bom' ajuda o cão amigo que está em maus lençóis
Que nós estamos cada vez menos solidários. Acho sempre anti natura quando o ser humano não se deixa arrebatar pelo instinto ou pela emoção (ok, mas eu não estou a falar de sexo) em situações que lhe pedem nada menos que a expressão da sua humanidade. Lembro-me de um vídeo que a todos chocou, vindo da América, paraíso de extremos, mostrando uma mulher que agonizava na sala de espera de um hospital enquanto as pessoas que esperavam na mesma sala não se aproximaram sequer para perguntar se precisava de alguma coisa. Como se fosse preciso perguntar. Mas ao menos o gesto. Mas não. Nem gesto, nem o olhar, qual olhar, o olhar afasta-se, descomprometido, nada viu. E a mulher morre assistida pelas câmaras de vigilância.
A paz peço a paz apenas o repouso da luta no barro das mãos uma língua sensível ao sabor do vinho a paz clara a paz quotidiana dos actos que nos cobrem de lama e sol
Apesar das ruínas e da morte Onde sempre acabou cada ilusão, A força dos meus sonhos é tão forte, Que de tudo renasce a exaltação E nunca as minhas mãos ficam vazias.
e o teu perfume a transpirar na minha pele. E o corpo doeu-me onde antes os teus dedos foram aves de verão e a tua boca deixou um rasto de canções.
No abrigo da noite, soubeste ser o vento na minha camisola; e eu despi-a para ti, a dar-te um coração que era o resto da vida - como um peixe respira na rede mais exausta. Nem mesmo à despedida
foram os gestos contundentes: tudo o que vem de ti é um poema. Contudo, ao acordar, a solidão sulcara um vale nos cobertores e o meu corpo era de novo um trilho abandonado na paisagem. Sentei-me na cama
e repeti devagar o teu nome, o nome dos meus sonhos, mas as sílabas caíam no fim das palavras, a dor esgota as forças, são frios os batentes nas portas da manhã.